Terrorismo. Essa a adequada definição para os lamentáveis atos de vandalismo e enfrentamento à polícia registrados na favela de Paraisópolis (SP). Mais do que protestar pela morte de um suposto ladrão de automóvel que teria resistido à prisão, numa demonstração de força, coesão e comando, o crime organizado, mais uma vez, tentou desmoralizar o Estado e firmar o poder paralelo no bairro. Esse tipo de revolta é inaceitável e exige a mais severa reprimenda oficial, para evitar que o objetivo criminoso se consolide e, principalmente, que não sirva de exemplo e incentivo para outras ações do gênero. Fez bem a policia paulista ao ocupar imediatamente o bairro e abrir investigações. A identificação dos autores como "soldados" do tráfico na favela e de um presidiário ligado ao PCC - recolhido numa prisão a 600 quilômetros de São Paulo - como mandante das ações criminosas tornam o fato mais grave e carente de enérgica e imediata reação oficial. Todos os "comandantes" do ocorrido em Paraisópolis precisam ser transferidos imediatamente para prisões de segurança máxima, de preferência fora de São Paulo (onde até o megatraficante Fernandinho Beira-Mar "afinou") e os participantes identificados e rigorosamente denunciados e punidos. A análise do farto material das TVs e de câmeras fixas existentes na área poderá facilitar essa identificação. São Paulo já padeceu com as ações do famigerado PCC, o sindicato do crime que atua no interior das prisões e tem ramificações fora delas, fruto do vácuo de autoridade e política carcerária equivocada praticada durante anos. Autoridades negam, mas noticiou-se que, em 2007, tiveram até de negociar com os rebeldes para cessar suas ações contra as forças legais. Agora, quando tudo parecia em relativo equilíbrio, não se pode deixar que novas frentes criminosas se constituam e passem a substituir ou confrontar o Estado. Embora tenha seus problemas de segurança pública, São Paulo não possui áreas explicitamente dominadas pelo crime organizado ou por milícias ilegais. Por isso é que a ocupação policial de Paraisópolis deve ser apoiada e incentivada por todos os setores responsáveis da sociedade. Não pode a população de bem - que constitui a maioria esmagadora do povo - ser colocada à mercê de marginais, e nem sofrer por conta de seus supostos protestos ou ações de represália ao governo ou à força policial. Ao lado do rigor em relação àqueles que promoveram o vandalismo e implantaram o terror à população do bairro, o governo tem a obrigação de socorrer à população. Além de caçar implacavelmente os bandidos, há que se reparar de alguma forma os danos causados pelos distúrbios e, principalmente, evitar que se repitam. Ninguém pode se esquecer de que o governo, que cobra os impostos, tem a obrigação de oferecer segurança, educação, saúde, transportes, condições de trabalho e amparo social à população. Quando não o faz, corre o risco de ceder o "imperium" para o crime organizado. E, se isso acontece, o sofrimento e a vergonha são gerais... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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