Durante os chamados "anos de chumbo", o velho MDB foi chamado de frente de resistência (pelos oposicionistas) e de oposição consentida (pelos situacionistas). O certo é que o partido serviu de válvula de escape para a falta de liberdade de então. Beneficiou tanto os inconformados quanto os governos militares, que se diziam também democráticos, apesar de tudo. Tudo isso, felizmente, está coberto pela poeira da história, que não tem ideologia e não faz distinção entre direita e esquerda, ricos e pobres, crentes e ateus e, nem mesmo entre preto e branco. A história, empoeirada - portanto sem emoção - mostra um MDB como grande lenitivo político para aqueles tempos difíceis. Como seu sucedâneo, veio o PMDB, já na reabertura do pluripartidarismo. Muitos emedebistas tidos como "históricos" foram buscar acomodação nos partidos que mais condiziam com suas ideologias e interesses, já que o velho e resistente "modebra" era por eles encarado como uma frente de oposição. Na virada dos anos 70 para os 80, tivemos a anistia e a redemocratização plena do país. Os exilados voltaram, os presos políticos foram libertados e, finalmente, voltamos à normalidade democrática. A tutela militar foi gradativamente diminuída até que, em 1985, elegeu-se Tancredo Neves, um oposicionista que passou pelo colégio eleitoral, instrumento criado no regime de exceção, com a promessa de eliminá-lo e restabelecer as eleições diretas. Tancredo não teve saúde para assumir, Sarney o fez em seu lugar e a abertura evoluiu. Deixou de ser crime "alguém" declarar-se comunista e ninguém mais foi punido pela simples ideologia. A mudança brasileira precedia o fim da guerra fria que sepultou definitivamente as intolerâncias e a luta entre direita e esquerda. A velha "frente" sofreu defecções importantes. Houve até quem acreditasse que o PMDB chegaria ao fim. Depois do esvaziamento ocorrido com a montagem do PSDB, que levou nomes importantes e fundamentais e chegou a assumir a dianteira na política nacional, o velho partido de frente parecia moribundo. No entanto, quando o PSDB foi apeado do poder pela avalanche petista, a antiga agremiação ganhou novas forças. Hoje ninguém faz algo em política, neste país, sem primeiro entender-se com o PMDB, aquele da "resistência" ou da "oposição consentida". O partido que - segundo alguns - esteve sob o risco de desaparecer, acaba de eleger os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados e possui influência fundamental no governo federal, na maioria das administrações estaduais e em grande número de municípios. A trajetória peemedebista mostra a agremiação como uma força predestinada. Por mais força e popularidade que o PT - partido nascido nas bases do ABC - possa ter, não pode prescindir daquele que foi a "resistência democrática". Assim como hoje, todas as agremiações são importantes na política nacional. Felizmente, vivemos num pais democráticos e pluralista. Quem pretender algo diferente, terá de se mudar e procurar a sua turma... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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