Neste mundo de falsas moralidades, o cabra para não virar bode expiatório ou é imoral por inteiro compartilhando, mais corretamente dividindo, ou não se atreva a alguma coisa normal que possa aparecer anormal. Os velhacos de plantão, e a imprensa “Maria vai com as outras” estão com os espaços de manchetes abertos. Cortam a linha antes do último alô. Vivem fora linha e por isto derrubam os que a tenham. É paradoxo, eu que acompanho o dia-a-dia da Justiça, como jornalista, conhecendo as dificuldades das autoridades que levam processos, documentos e outros encargos de seus horários de expediente, para horas extras no horário de ver a novela, desprezam os dias de lazer, tudo para cumprir prazos processuais. Não são poucos, em tempo de Justiça engarrafada e delegacias desestruturadas, que se obrigam a levar máquinas de escrever, ou computadores, para dar curso ao serviço, enquanto olham os filhos, o marido, ou as panelas no fogo. Não é exagero de minhas linhas, nesta “Bahia de Todos os Nós!” Pois fico perplexo com as manchetes: “Delegada é presa por ter gato telefônico em casa”. Primeiro não é gato. Assim nos referimos às ligações clandestinas, quando há um “roubo” de tarifas. Ou ainda quando há, mesmo que com o consumo pago, um desconhecimento total por parte de quem, por exemplo, é usuário de uma linha telefônica, não sendo o caso, pois afinal a delegada sabia. A querela surgiu na cidade de Souto Soares, tão pequena que quando um habitante solta uma bufa todos sentem o cheiro. A delegada de polícia civil, doutora Marta Carneiro da Silva Costa, que há pouco mais de dois meses trabalha no município de Souto Soares, a 484 quilômetros de Salvador, na Chapada Diamantina, absurdamente foi presa por ter levado o celular para casa. A cidade, de tão mínima, não tem este recurso. Então a delegada, para bem servir, atendendo às necessidades fora de seu horário de expediente, puxou uma extensão do terminal telefônico que serve a delegacia, para atender em sua casa, próxima ao ergástulo público. Agora está em custódia na Corregedoria de Polícia Civil (Correpol) na capital baiana. Os inquéritos aos que se dedicava estão lá, parados, Dizem que a Secretaria de Segurança Pública (SSP) tenta manter sigilo absoluto em relação aos motivos que levaram à prisão da policial. No entanto, moradores do município onde ela trabalhava e fontes da Justiça informaram que Marta teria feito uma ligação “clandestina” na linha de telefone da delegacia para que pudesse atendê-lo, também, em sua residência. Se não queriam um escândalo, bastava, internamente, lhe ter solicitado o desligamento da extensão. Mas algum “bocudo” da própria SSP deu o alarme para fazer bonito junto à imprensa antiética, que não apura os fatos. O corregedor devia procurar casos mais graves a corrigir. Mas a coitada da delegada é que virou uma cabrita expiratória, no mundo em que os cabritos têm trânsito livre na maioria das delegacias. Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
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