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Opinião
12/02/2009 - 15h30
O trote, a lei e a punição
Dirceu Cardoso Gonçalves
 

Vai muito distante o tempo em que o trote aplicado pelos veteranos aos calouros universitários era uma verdadeira obra de arte. A festa de recepção aos novatos era quase um carnaval temporão onde desfilavam com muito bom humor os políticos e acontecimentos marcantes da época. Jânio Quadros, com seus trejeitos, era o preferido dos troteiros, que também não perdoavam Adhemar de Barros, Carvalho Pinto, o Salário Mínimo, o controle de preços e outras pessoas e coisas que preocupavam o cotidiano nacional (até o internacional). Tudo era feito de forma que o dito trote não passava da exposição do "bicho" ao ridículo sem, no entanto, agredi-lo fisicamente ou moralmente. Tanto, que a festa era um acontecimento social.

Há de se entender, no entanto, que os universitários de então eram considerados uma casta da economia ou da inteligência. Só entrava na faculdade quem tinha família rica para bancar e ainda era capaz de passar no vestibular. As escolas, os cursos e as vagas eram poucos. E quem entrava, tinha a certeza de que, ao final, estava com seu espaço de mercado garantido. Seriam os novos advogados, médicos, engenheiros, arquitetos e outros profissionais de nível superior.

A mudança do perfil da sociedade brasileira ocasionou a proliferação dos cursos universitários que hoje são praticamente obrigatórios a todo indivíduo que quiser ser alguém competitivo no mercado de trabalho. Em grande número, os trotes perderam aquele sentido de crítica social existente no passado romântico, ganhando inicialmente o caráter de festa comum e descambando, depois, para a agressão e, em alguns casos, a liberação das taras de alguns que, pelo comportamento, não deveria estar na universidade, mas na cadeia. Tanto que a maioria das instituições proibiram o trote ou o permitem apenas de maneira "light" e com finalidade filantrópica. Mas, mesmo assim, ainda acabam ocorrendo aqui ou acolá casos como o registrado em Leme (SP), onde alunos de veterinária foram chicoteados e obrigados a ingerir alcoólicos até entrar em coma.

A crônica policial registra muitos casos de trote violento que chegaram até a provocar mortes mas, infelizmente, poucos deles desaguaram em processos e condenações. Por conta do atravancamento da Justiça e com a idéia permissiva de que os jovens não são criminosos, mas apenas cometeram excessos, faz-se a impunidade. Isso não pode continuar acontecendo, sob o risco de perenizar as cenas de desrespeito e barbárie e os atos de sadismo que alguns poucos cometem num momento em que deveriam estar festejando o início de uma nova relação - de veteranos e calouros - que deverá durar no mínimo pelos próximos anos em que ambas as partes continuarem freqüentando o curso, podendo prolonga-se por toda a carreira e vida.

Tudo aquilo que ocorrer nos "trotes" e estiver capitulado no Código Penal tem de ser rigorosamente apurado e encaminhado para a apreciação da Justiça. Temos leis suficientes para acabar com essa bestialidade. Basta a sociedade assim o exigir...


Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).

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