Tornar-se adulto não é uma tarefa fácil. Pelo contrário, envolve muitos descobrimentos e transformações cheios de sensações conflitantes: dor, alívio, sofrimento, alegria, tristeza etc. A passagem da infância para a vida adulta, a adolescência, é uma grande aventura cheia de desafios, enigmas, turbulências, angústias e medos. É uma etapa fundamental e saudável do processo de crescimento. A questão central do adolescente é a busca do eu. Num primeiro momento, sua função principal é a de se contrapor ao conhecido: a família. Ser eu é não ser você. Já que nega a família, busca no grupo de pares os contornos que procura. Fortalece, assim, algo diferente do conhecido. Mais tarde, essas questões mudam e ele pode se identificar com a família, seus valores e outras características. Esta etapa de vida é angustiante, pois ele se vê diante de um futuro que não sabe o que vem. O que ficou para trás não serve e o que vem pela frente ele não sabe se vai ser capaz. Então, o adolescente começa a questionar sua vida, as pessoas que estão a sua volta, os seus valores e princípios. Escutamos com frequência de pais e de professores a queixa de estarem sendo testados o tempo todo pelos adolescentes. De fato, eles nos fazem passar por situações que desafiam nossos limites. Situações como estas nos deixam irritados, nervosos e até mesmo perdemos a paciência. É isso mesmo o que ele quer: saber até quando aguentamos suas provocações. Devemos ter claro que determinados comportamentos não são tolerados. Isso não quer dizer que ele é rejeitado, mas, sim sua atitude. Existe uma grande diferença entre “isto que você fez é horrível” e “você é horrível”. Horrível é a atitude tomada e não a pessoa. Os adolescentes devem saber que os pais estão lá como uma proteção, um “pára-quedas”, em que ele pode contar no momento da necessidade. Os pais acabam, também, virando “saco de pancadas”. Sobreviver aos ataques e tolerar apenas as atitudes aceitáveis dependerá dos adultos, que com isso contribuirão para seu crescimento saudável. Não é um trabalho fácil. Ao contrário, é difícil estar neste papel. Em casa ou na escola, muitos conflitos surgem quando o adulto não sabe quais são seus limites. Um pai ou professor, por exemplo, permite em alguns momentos que seu filho ou aluno o chame de b#%!@ e ri com isso. Em outros, se irrita com este chamado e dá a maior bronca no menino. O que será que ele pensa a respeito disso? Posso ou não posso chamá-lo desse jeito? Na escola ou em casa ser pai ou professor é diferente de ser amigo; e é aí que muitos problemas começam. Também é comum professores novos serem submetidos por uma turma a esses desafios. Apenas quando conseguem posicionar-se, a turma os acolherá e respeitará. Caso contrário, estes professores terão grandes chances de fracassar nos seus objetivos. Ter um filho adolescente é um desafio não só para o filho, mas para os pais que, além de se transformarem, têm que repensar seu papel. Ser “saco de pancadas”, “pára-quedas”, não é nada fácil, mas fundamental para o desenvolvimento do filho. Se saírem desta etapa, todos sairão enriquecidos. Ser pai é uma tarefa árdua, com desafios constantes, mas que gera crescimento. Nota do Editor: Bruno Weinberg é psicólogo e orientador educacional do Colégio I. L. Peretz, em São Paulo.
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