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Opinião
23/02/2009 - 13h16
As profecias de Marx
Rodrigo Constantino
 

Se desconfiarmos que alguém mente, finjamos crença: ele há de tornar-se ousado, mentirá com mais vigor, sendo desmascarado.” (Schopenhauer)

Está circulando na internet um suposto trecho de O Capital, escrito em 1867 por Karl Marx, onde ele teria feito uma previsão bastante precisa sobre a crise atual. O trecho chegou ao blog de Ricardo Noblat, e em inúmeros outros, assim como várias pessoas têm enviado por e-mail a mensagem. Eis o suposto trecho de Marx:

"Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado".

Seria, de fato, impressionante a visão do autor dessa frase, se ela fosse verdadeira. Não é. Os marxistas sempre foram mestres na propaganda enganosa (vide União Soviética). Uma mentira repetida mil vezes acaba se tornando verdade. Nessa crença, entre tantas outras coisas, marxistas e nazistas se parecem muito. Goebbels poderia tranquilamente se passar por marxista nesse caso. E de fato, Hitler reconheceu que aprendeu muito com os métodos marxistas.

Reescrever a história sob uma lente marxista que distorce todos os fatos é uma tarefa comum para muitos “historiadores”. Mas dessa vez foram longe demais: inventaram algo que Marx jamais disse, e a coisa se espalhou como um vírus pela internet. Usaram a tecnologia capitalista para disseminar uma mentira contra o capitalismo, tentando resgatar em parte a imagem chamuscada do “guru” fracassado. Só que esqueceram que a mesma tecnologia ajuda bastante na tarefa de desmascarar tal mentira.

Afinal, O Capital é um livro que está em domínio público, e existem versões suas online. Qualquer um pode baixar um arquivo de PDF e ter acesso ao livro inteiro. E com um simples instrumento de busca, pode pesquisar nas centenas de páginas maçantes e confusas, qualquer termo, expressão ou passagem. Marx usa o termo tecnologia poucas vezes. Creio que o uso dessa expressão na frase inventada foi um erro dos criadores da farsa. Deu menos credibilidade e despertou desconfiança. Fora isso, não há nada no livro parecido com tal previsão. Que Marx achava que o capitalismo iria inexoravelmente ruir, todos sabem. Aliás, os marxistas vivem desde então cantando o fim do capitalismo em cada nova crise, apenas para verem seus sonhos macabros virarem pó uma vez mais. Mas Marx nunca chegou perto de fazer uma profecia tão certeira como essa inventada.

Mas os marxistas contaram com dois fatores que jogam a seu favor: a preguiça ou falta de tempo dos leitores; e a vontade de acreditar. Nem todos têm saco ou tempo para verificar se cada frase que recebem por e-mail é mesmo verídica. A internet tem esse risco: propaga muita mentira. Além disso, muitos sentem uma incrível necessidade de crer no marxismo, no fim do capitalismo, num “mundo melhor possível”. A utopia socialista, que quando tentam implantar na prática vira um inferno, conquista muitos adeptos. A teoria de exploração do capital, por exemplo, é um bode expiatório perfeito para quem deseja jogar a culpa de seus fracassos nos outros. Segundo Böhm-Bawerk, “as massas não buscam a reflexão crítica: simplesmente, seguem suas próprias emoções”. Acreditam na teoria marxista sobre juros porque a teoria lhes agrada. O economista conclui: “Acreditariam nela mesmo que sua fundamentação fosse ainda pior do que é”.

Mas para a infelicidade dos marxistas mitomaníacos, existem alguns “neoliberais” chatos, com essa mania absurda de checar os fatos. E eis que a máscara caiu uma vez mais! Os marxistas terão que conviver com o desagradável fato de que seu “profeta” não acertou dessa vez, nem em qualquer outra. O marxismo é mesmo uma seita calcada em dogmas (*). Basta aplicar a lógica para derrubar todos os mitos que ainda sustentam, não obstante tantos erros, o marxismo. Ao menos na América Latina, onde a idolatria ao fracasso tem um passado impressionante, e um futuro bastante promissor...

(*) O economista austríaco Schumpeter chamou o seu primeiro capítulo de Capitalism, Socialism and Democracy de “Marx The Prophet”. Eis o que ele escreve logo no começo: "In one important sense, Marxism is a religion. To the believer it presents, first, a system of ultimate ends that embody the meaning of life and are absolute standards by which to judge events and actions; and, secondly, a guide to those ends which implies a plan of salvation and the indication of the evil from which mankind, or a chosen section of mankind, is to be saved. We may specify still further: Marxist socialism also belongs to that subgroup which promises paradise on this side of the grave". Estou de pleno acordo. A seita marxista vende a promessa de paraíso terrestre, a salvação para a humanidade. E muitos acreditam nisso apenas porque desejam acreditar. É a necessidade dos crentes, não sua reflexão lógica, que aproxima tantos latino-americanos alienados do marxismo. E ao contrário da frase atribuída a Marx, essa de Schumpeter é verdadeira. Quem quiser, pode checar. Os “neoliberais” deixam essa tática pérfida de mentir compulsivamente para os marxistas mesmo...


Nota do Editor: Rodrigo Constantino é economista formado pela PUC-RJ, com MBA de Finanças no IBMEC, trabalha no mercado financeiro desde 1997, como analista de empresas e depois administrador de portfólio. Autor de dois livros: Prisioneiros da Liberdade, e Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT, pela editora Soler. Está lançando o terceiro livro sobre as idéias de Ayn Rand, pela Documenta Histórica Editora. Membro fundador do Instituto Millenium. Articulista nos sites Diego Casagrande e Ratio pro Libertas, assim como para os Institutos Millenium e Liberal. Escreve para a Revista Voto-RS também. Possui um blog (rodrigoconstantino.blogspot.com) para a divulgação de seus artigos.

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