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Opinião
24/02/2009 - 16h38
A pedagogia da possibilidade
Ivana Maria Franco Ribeiro
 

Será que a escola pode aprender com a escola de samba? Esta é uma questão colocada, nos anos 90, por colegas da Universidade de Campinas (Unicamp). A partir dela, inspirei-me a realizar minha pesquisa de mestrado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Aqui estamos nós ante a mesma pergunta, que continua atualíssima, no Carnaval de 2009 e início de mais um ano letivo, em pleno Século XXI.

A escola de samba tem seu início, de acordo com uma das versões, em 12 de agosto de 1928, fundada pelo bloco carnavalesco Deixa Falar. Os negros, excluídos dos estabelecimentos de ensino formais e volta e meia cerceados pela autoridades da época, encontraram uma forma de construir a sua própria escola para cantar e contar suas histórias. Relatos de vida registrados em vários sambas.

O interessante é que a escola de samba estabeleceu um currículo tanto quanto a escola formal. As disciplinas que a circundam estão em uma grade curricular que se apresenta através dos quesitos. A partir do enredo, que para nós educadores pode ser considerado o tema gerador freiriano, o projeto político pedagógico desenvolve-se durante um ano todo. O enredo socializa um conhecimento e pode variar bastante, geralmente se referindo a um acontecimento histórico, mas podendo constituir-se em homenagem a uma personalidade, das artes, da literatura, da música, da televisão, do esporte ou da política. Ultimamente, questões relacionadas à sustentabilidade e meio ambiente vêm sendo consideradas, já que se trata de assunto premente.

Estabelecido o enredo e depois de ampla discussão do grupo, o carnavalesco o estuda profundamente e apresenta o projeto político pedagógico daquele ano. Momento sublime o da escolha do enredo, que será sucedido de imenso trabalho da comunidade. Compõem-se redes temáticas, organizando-se cada disciplina, que, para eles, são os quesitos, definindo o trabalho de um ano todo. Os compositores iniciam suas pesquisas, dedicando-se exaustivamente a compor o "melhor samba". As composições serão, em determinado tempo, expostas à comunidade, avaliadas e, finalmente, o samba ideal - aquele que representa da melhor forma o enredo eleito pela comunidade - é, coletivamente, aclamado pela comunidade. Paralelamente, dá-se início aos desenhos dos figurinos das alas, carros alegóricos, enfim, à elaboração de um todo que contará aquela história para os amantes do carnaval.

A questão que salta aos olhos é que determinados grupos de pessoas envolvem-se e se mobilizam em torno de um assunto para o bem comum, informando e formando, de tal modo que aprender e ensinar tornam-se um grande prazer. A interdisciplinaridade se faz!

Aprender e ensinar com prazer, envolvimento e entusiasmo, com união e sinergia, é o sonho de muitos alunos e educadores, sendo também uma importante lição de grandes mestres da educação, como Mário Sergio Cortella, Alípio Casali, Ana Maria Saul, Moacir Gadotti, Ivani Fazenda, Peter Mc Larem, Edgard Morin, Henry Girox e Perrenoud.

A cada ano, me deparo com estudantes iniciando a sua vida acadêmica, cheios de sonhos e questionamentos. Em minhas andanças pelas escolas públicas, particulares e cursos para formação de professores, me apresentam um "que-fazer" molhado de inquietações, projetos e realizações maravilhosas. Um exemplo é o aluno Lucas Gonçalves de Oliveira, 14 anos, orientado pela professora Nair de Alcântara Kfouri, de São José do Rio Preto, eleito em 2008 presidente do Parlamento Jovem do Estado de São Paulo. Seu projeto é simples, não simplista, humano e pode alavancar um "inédito viável", no qual muitos aprenderão e ensinarão. Ele propõe que jovens façam estágios em asilos. Os conhecimentos, compartilhados com os dos adultos, produzirão novos olhares, vivências e, por que não, práticas educativas.

Essa é apenas uma dentre milhares de ações que educam, constroem, socializam e fazem da gente mais gente. O Carnaval está aí. As aulas chegaram. Um novo ano, um novo tempo, o nosso tempo. Que as baianas rodopiem com a graça e alegria da vida, que a comissão de frente venha imponente dando o seu recado, que a bateria acelere os nossos corações, que as alas mostrem o seu papel, que os educadores desfilem prazerosamente os seus conteúdos. Que os educandos vivenciem o seu momento único da formação. Que a nossa sociedade, a escola formal e a escola de samba concretizem os seus projetos pedagógicos, seus currículos; replanejem, reavaliem e avaliem criteriosamente os seus objetivos.

Que os projetos se concretizem. Que a educação faça, agora, sua apoteose como redentora do desenvolvimento e da democracia. Que a inclusão em todos os níveis seja o ator social desse novo tempo. Que física, química, matemática, língua portuguesa, histórica, geografia, sociologia, filosofia, ciências e artes adentrem às suas passarelas com a graça do mestre-sala e da porta-bandeira, com a determinação da comissão de frente e o brilho das fantasias, fazendo, enfim a nossa realidade. É preciso discutir projetos, colocá-los em prática e, principalmente, avaliar e reavaliar o processo educativo para a construção de uma educação viva e cidadã. Afinal, contamos com a pedagogia da possibilidade, que parte de um sonho, e se torna realidade.


Nota do Editor: Ivana Maria Franco Ribeiro é mestre em Educação Currículo pela PUC/SP e professora das Faculdades Integradas Rio Branco.

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