02/09/2025  04h46
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Crônicas
28/02/2009 - 07h23
Palavras
Nei Duclós
 

Motivos aparentemente bizarros inventam sugestões quase obscenas para o som de algumas palavras. Jamais uso “dentre”, por exemplo, porque me lembra dente quebrado. A implicância é tamanha que a considero desnecessária. “Tripartite” é a pior palavra da língua, se é que ela pertence mesmo ao português. Talvez seja subproduto de um dialeto tatibitati. O excesso de tês não a recomenda para o uso corrente e sim para definir encontros internacionais inócuos, quando dois interlocutores são insuficientes para fazer marola.

“Próstata” ocupa lugar de destaque no índex. Considero uma proparoxítona explícita demais, uma sonora imposição de intimidades em conversas públicas. Pela potencialidade perigosa na terceira idade, deveria ser confinada em masmorras de debates científicos, longe da exposição pública, principalmente das campanhas de saúde. Poderia ser substituída então por três pontinhos. “Ei, você, cuide da sua...” Mas haveria o risco de sugerir xingamento, palavrão, enquanto a mídia repetiria milhões de vezes a explicação do seu significado. Faria par com o PIB, pois alguém decidiu que a população perdeu a capacidade de memorizar conceitos óbvios.

É um mistério o desconforto provocado por “alcaguete”. Achei que o motivo era o trema, o que não faz sentido, pois lamento seu assassinato pela recente reforma. Mesmo depois que o trema caiu, a inimizade permaneceu. Alcaguete guarda em seu íntimo um cacófato e torna-se aguado quando alguém pronuncia. Há, claro, o sentido pejorativo, do traidor que se mistura ao alvo da traição, o exercício da covardia, mas há entidades muito mais assustadoras que não me causam nenhuma estranheza.

Assim como essas palavras, algumas soluções usadas generosamente me provocam urticária. “Quando da”, ou “quando do”, por exemplo. Alguém um dia não soube escrever direito sobre um fato passado e colocou provisoriamente essa expressão. Iria pensar, mais tarde, em outra melhor. Mas esqueceu e virou praga.

O pior pesadelo da linguagem seria este: “Quando da primeira vez em que foi planejado um encontro secreto tripartite para debater problemas da próstata, um alcaguete, dentre os organizadores, entregou o lugar da reunião”.


Nota do Editor: Nei Duclós é autor de três livros de poesia: "Outubro" (1975), "No meio da rua" (1979) e "No mar, Veremos" (2001); de um romance: "Universo Baldio" (2004); e de um livro de conto e crônicas: "O Refúgio do Príncipe - Histórias Sopradas pelo Vento" (2006). Jornalista desde 1970 e formado em História.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.