A entrada de um novo ano é sempre cercada das expectativas que acompanham o nascimento de uma provável nova era, por isso o primeiro mês deste ano era encarado como verdadeira incógnita, pois a crise que rondava as estranjas prometia aqui chegar com força total. Não foi bem o que aconteceu, por diversos fatores facilmente inteligíveis e que dizem muito pouco com a atuação do governo Lula. Governo que num primeiro momento sentiu o baque da crise, mas logo refez-se, sacudiu a poeira e retomou uma antiga estratégia, que já tem mais de dois anos e que a crise poderia atrapalhar, qual seja, um terceiro mandato para o sr. Inácio. Movimento que agora ressurge a todo vapor e que quando surgiu mostrou um maquiavélico poder de engendrar, uma verdadeira usina de idéias estapafúrdias a que os principais analistas políticos não deram a devida atenção à época: a criação de um Ministério de nome pomposo e esquisito – Ministério do Planejamento de Estratégias de Longo Prazo – e a nomeação de Mangabeira Unger para o cargo de ministro, um dos maiores estrategos da atualidade. Dito Ministério deveria ganhar um nome bem mais simples, Ministério da Reeleição Eterna, um projeto que teria apoio velado dos Estados Unidos, que viram que o incentivo à reeleição de populares e populistas mandatários nas Américas era uma forma de preservar o alinhamento incondicional e garantir os investimentos americanos no continente. À tentação totalitária travestida de reeleição já sucumbiram quase todos os presidentes latino-americanos, com exceção de Brasil e Paraguai, ainda. A Argentina, cujo povo é avesso à tese, optou por mascará-la elegendo Cristina Kichner, copa, cozinha e quarto do ex-presidente, numa reeleição implícita. No Brasil a idéia refluiu dado ao desastre das tentativas venezuelana e boliviana, mas não desapareceu, apenas ficou hibernando aguardando dias melhores, que parecem ter chegado. É onde surgiu Dilma Roussef. A estratégia indicava, que o Palácio precisava de um “candidato” capaz de atrair as atenções e sujeitar-se ao desgaste que o tempo normalmente se incumbe de causar aos prematuros. Um boi de piranha. Desta forma, Lula estaria preservado, prontinho para 2010. O candidato do sr. Lula chama-se Luiz Inácio da Silva, que entra em 2009, repetindo os passos de 2007 e dois mil e oito, de uma forma excessivamente perigosa, que tem tudo para reeditar a campanha pela reeleição de FHC em 1998, onde os esforços financeiros desmedidos, principalmente na compra de apoios, levou o Brasil à UTI do Fundo Monetário Internacional. Pelo andar da carruagem é para lá que nós vamos... A campanha para uma trieleição em 2010, já está nas ruas e as provas disso são as mais variadas e incontestes possíveis: aumento de beneficiados com o bolsa família; extensão de um mês no seguro-desemprego; ida a Brasília de cerca de 3.500 prefeitos (foram fazer o quê?); promessa de construção de 500 mil casas populares: e muitas outras que só poderão ser cumpridas em 2013 ou 2014, quando constitucionalmente o presidente já seria outro. Tem-se que dar mão à palmatória, Lula é um verdadeiro mestre em efeitos especiais, que unidos ao marketing, a um bom Ministério da reeleição eterna, que inclui as famosas “pesquisas” e uma grande dose de populismo barato e demagogia, torna-o quase imbatível. Para completar, sabe ainda jogar como ninguém com o poderio financeiro e a máquina convincente do Estado. De onde poder-se-ia esperar alguma coisa para barrar tais pretensões, nada. O Congresso começou 2009 antecipando 2010, dominado no dizer do Economist, por verdadeiros dinossauros, que a única novidade que podem trazer é a mudança nas folhas do calendário. No mais o que se pode esperar é o irrestrito apoio às ordens do Executivo. Entender a ciência política no Brasil de 2009 e tentar evitar um terceiro mandato virou um trabalho não só para marqueteiros e militantes políticos mas também para paleontólogos, que poderão vir a estudar os fósseis de políticos da idade da pedra, que só não são ultrapassados na capacidade de amealhar riquezas e a conquistar votos. Vira-se, revira-se, mexe-se, remexe-se e continua-se na mesma. Se a gente conseguisse sair da idade da pedra e chegasse à do obscurantismo ou das trevas pelo menos, já teria sido um grande avanço e talvez a tese de outro mandato para Lula seria apenas especulação do articulista. O que não parece. Nota do Editor: Luiz Bosco Sardinha Machado é o responsável pelo blog “A brasa do Sardinha”.
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