A Campanha da Fraternidade, realizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), traz em seu bojo a Segurança Pública como tema, neste ano. É importante que a igreja, essa grande estrutura esteja voltada para a profunda discussão do problema que aflige toda a comunidade brasileira e, a cada dia, por covardia do Estado, parece mais fora de controle. Todos almejamos a paz e a segurança mas as vemos, gradativamente, mais distantes em todos os rincões brasileiro. Essa carência manifesta-se desde a política equivocada dos governos - que têm o dever legal de promover a segurança - até a falta de permeabilidade de cada cidadão, a cada momento menos preparado com as velhas regras de que todo direito gera uma obrigação e de que o direito de um termina onde começa o do outro etc. É importantíssima a tarefa de levar a população a reencontrar o elo de segurança perdido. Mas a ação não deve ficar circunscrita só ao período de duração da Campanha da Fraternidade que, apesar de importante e densa, dura apenas os 40 dias da quaresma. Seria altamente inteligente que a própria igreja e toda a sociedade organizada aproveitassem o pontapé inicial da campanha e passassem a realizar ações permanentes de cobrança e estímulo à segurança coletiva. Aproveitando sua presença física e pastoral em todos os cantos do país, a igreja, por seus sacerdotes e lideranças poderia identificar os problemas e pressionar prefeitos, vereadores, parlamentares e demais autoridades pela sua solução. Muitos dos desvios seriam solucionados no nascedouro e outros teriam o adequado encaminhamento para a solução. Com certeza, uma ação dessas merecia o apoio e o aplauso de toda a sociedade. Toda a problemática da insegurança não surgiu da noite para o dia. Anos, ou décadas, de falta de respostas aos problemas sociais levaram à crise de sustentabilidade hoje vivida. Seria ingênuo supor que a solução está na simples campanha, por mais forte e representativa que seja. A melhora dos índices exigirá muito esforço, renúncia a velhos interesses e conceitos, além de uma postura social e realmente conciliadora de toda a sociedade. Os governos têm de cumprir sua tarefa de geração de oportunidades e reinversão dos impostos cobrados em saúde, educação, moradia e serviços de boa qualidade à população. As classes produtoras devem ver firmeza e bons motivos para continuar investindo e fazendo a economia nacional evoluir, criando mercado e oportunidades. As entidades sociais têm de cumprir o seu papel crítico-colaborador sem jamais tentar se apropriarem de instrumentos público-sociais ou pugnarem pela impunidade de uns em prejuízo de outros. O grande foco deve ser o bem comunitário e a segurança do cidadão. O povo brasileiro não pode continuar refém do crime organizado, das milícias e da omissão do governo e das instituições sociais criadas para sua defesa. É preciso, antes de tudo, que cada um cumpra integralmente com seu dever e não procure politizar e partidarizar a crise social. Basta começar a fazer isso para que os índices de criminalidade e desagregação social comecem a melhorar e os brasileiro possam voltar a respirar mais aliviados. Trabalhemos, pois, pela Fraternidade Permanente... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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