O presidente Barack Obama fez o que dele se esperava: apresentou ao Congresso o orçamento para o primeiro ano de sua gestão inflado por um déficit de US$ 1,75 trilhão, equivalente a 12,3% do PIB. Os adoradores do Estado dirão é que é orçamento “corajoso”, keynesiano, moldado enquanto ferramenta anticíclica. Eu digo: é a mais arrematada loucura que um governante poderia fazer. É interessante sublinhar que o orçamento, peça que simboliza a separação de poderes e é a expressão do funcionamento do Estado democrático de direito, tem perdido essa função em face da irresponsabilidade dos governantes e da completa alucinação dos marcos teóricos que suportam a sua construção. Produzir um déficit planejado desse tamanho é tão somente uma gigantesca irresponsabilidade, vez que projeta para o futuro fatores imponderáveis para manutenção do valor da moeda norte-americana. O orçamento tornou-se um simples mecanismo declaratório pelo qual grupos de interesses informam sua capacidade de se apropriar da capacidade de gastos públicos, sob os mais diversos pretextos. É o cinismo levado à sua manifestação mais grotesca, uma pura e simples forma de roubo institucional. Os interesses particulares de grupos específicos ficaram claramente sobrepostos aos interesses gerais. Vimos o maior ser devorado pelo menor. Sublinho, caro leitor, que essa peça de Obama é uma expressão acabada do mecanismo da construção da Segunda Realidade de que nos falaram Ortega y Gasset e Eric Voegelin em suas obras, a partir do legado de Miguel de Cervantes no Dom Quixote: aqueles que estão mentalmente equilibrados e donos de suas faculdades vêem a coisa como ela é, ou seja, que essa peça orçamentária (como, de resto, as anteriores) é tecnicamente insustentável e moralmente condenável. Esse orçamento é a prova mais acabada do delirante está mental em que os dirigentes da nação norte-americana se encontram. O manifesto do personagem cervantino mais conhecido, o de que viera “consertar tudo que está torto”, é o que está na mente dessa gente aventureira que tomou conta do Estado. Pior, as massas esperam isso dos dirigentes, nada mais nada menos. Então a loucura coletiva se transforma em razão de Estado, usando de todos os poderes que as modernas técnicas permitem, inclusive no plano militar e na capacidade policial de controle dos indivíduos. Óbvio que não se quer consertar coisa alguma, quer-se mesmo é “aperfeiçoar” a natureza, isto é, reinventar a alma humana, tarefa impossível. É a reengenharia social tão peculiar aos tempos modernos e que tem produzido milhões de mortos. É como se Dom Quixote, diante da simplória camponesa, enxergasse a idealizada Dulcinéia ou, inversamente, vendo a realidade como ela é, a moça simples, dissesse que estava diante de um efeito de encantamento, vez que o real não pode ser aceito enquanto tal. Quer mesmo é enxergar a formosa donzela Dulcinéia. A genialidade de Cervantes consiste precisamente em demonstrar de forma artística esse mecanismo mental anormal que tomou conta dos homens modernos. Podemos dizer com toda propriedade que é isso que está a se passar na cabeça dos governantes, e não apenas dos EUA. A elite dirigente simplesmente enlouqueceu, perdeu o contato com o real e se recusa a ver as coisas como elas são. O perigoso de tudo isso é que essa elite degenerada – maluca – tem os botões do apocalipse, entre eles a capacidade de destruir o valor da moeda que é o estofo das trocas internacionais e a condição primeira para a manutenção da normalidade econômica. Mais grave ainda nesse processo é que as universidades e as classes pensantes enlouqueceram muito antes dos governantes. São seus gurus, que produzem os “ismos”, keynesianismo, marxismo, racismo, sexismo, entre outros. São essas pessoas que supostamente produzem conhecimento capaz de pôr na mão dos governantes as ferramentas para a administração do Estado quem, de fato, legitimam as ações desastradas. Ora, tem século que o Estado deixou de ser vocacionado para as funções elementares do liberalismo clássico (o real) para se transformar na varinha de condão (o encantamento) capaz de supostamente superar todos os problemas existenciais da humanidade. Assim, esse novo Estado seria responsável por Educação, Saúde, aposentadorias e até mesmo por mudanças estruturais no clima, essa aloprada idéia de combate ao suposto aquecimento global. Na prática a única coisa produzida de fato por esses malucos foi o agigantamento do gasto público, concomitante com o alargamento da tributação. E, com ele, a destruição da liberdade. Quanto mais os dirigentes e a classe pensante se agitam em nome do combate à crise, mais se aprofunda esse fosso entre a realidade e a percepção dos tomadores de decisões. A recusa da realidade em se encaixar nos seus delírios é motivo para mais ações delirantes. Essa gente não consegue mais se dar conta de que, na raiz de tudo, está a loucura de se tentar fazer do Estado o fator de eliminação do risco existencial. O primeiro orçamento obâmico nada mais é do que o registro contábil da loucura coletiva de nossos tempos. De fato, Obama marcou época. Legou para a posteridade um documento capaz de provar a insanidade dessa geração insensata que está no poder. Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de Livrarias.
|