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Opinião
04/03/2009 - 15h06
Eu e as latas...
Carlos Ferrari - Pauta Social
 

Refrigerante ou cerveja? Com certeza dependendo do momento, do seu gosto pessoal ou até mesmo de um impulso, fica fácil para qualquer um fazer essa escolha em segundos. Pois bem, sentei agora para escrever essa coluna. Estou em um quarto de hotel em Brasília, e neste momento estamos eu e as latas. Não sei quem é quem, refrigerante, cerveja, água tônica e, por isso, acabei decidindo por conversar um pouco sobre isso com vocês.

A percepção da deficiência ao longo dos anos tem sofrido um constante processo de mutação. Da maldição até o inatingível, da inutilidade até os super-poderes; muitos foram os estereótipos construídos que, de uma forma ou outra e de acordo com o senso comum, sempre afastaram a pessoa com deficiência da condição compreendida pela sociedade como normal.

Assim pudemos assistir ao longo da história a caridade durante séculos como único meio para garantia de subsistência.

A transição desse cenário é relativamente recente, e tem se dado por meio da luta do segmento e da reconstrução do conceito de deficiência, que agora não mais somente considera a limitação do indivíduo, pois passa a correlacionar essas limitações com a desadequação da sociedade e seus espaços físicos, equipamentos, serviços, sinalizações e comportamentos.

Então é fato que quanto menor a adequação do mercado maior a deficiência do consumidor.

De acordo com a lógica capitalista, desprezar por volta de vinte e sete milhões de consumidores em se tratando de Brasil, caracterizaria uma estratégia suicida e nem um estudioso ou profissional de marketing consideraria essa hipótese como possível. As ações, no entanto, vão na contramão do que ditam as regras de mercado, excluindo um segmento que muitas vezes tem que brigar para ter o consumo como um direito, mesmo tendo o recurso financeiro.

A peça publicitária que tratava da venda da Bíblia falada, gravada por Cid Moreira, trazia um alento àquelas pessoas de religião que até então não podiam ler. Cegos, baixa visão, disléxicos, idosos, comemoravam a novidade na medida em que uma voz animadora anunciava a boa nova. O fechamento seria cômico se não fosse trágico: "Ligue agora para o telefone que está em seu vídeo e adquira nosso produto"!

Você já pensou nas dificuldades de um cadeirante para experimentar as roupas em boa parte das lojas ou mesmo para adentrar em bares e restaurantes de qualquer canto deste país?

Pois é, estamos aqui eu e as latas e vou buscar na sorte uma bebida gelada para matar a sede e renovar a esperança de termos em breve um mercado que não entenda essa questão como uma ação de responsabilidade social, mas sim do aproveitamento do potencial de consumo de um público que trabalha, que tem família ou mesmo recebe benefícios governamentais, enfim um público com poder de compra.


Nota do Editor: Carlos Ferrari é administrador de empresas, mestre em Administração de Empresas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e pós-graduado em Marketing pela Fundação Cásper Líbero. Vice-presidente dessa Instituição, ele é deficiente visual de nascença e ficou totalmente cego aos sete anos de idade. Atualmente é professor universitário nos institutos Ítalo-Brasileiro e Faculdade Interação Americana e vice-presidente da AVAPE, instituição focada na inclusão de pessoas com deficiência. Ele é, ainda, membro titular do Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, presidente da Federação Paulista de Desportos para Cegos (FPDC) e sócio-proprietário da Supera Treinamento e Gestão Sócio-Ambiental. Também é idealizador do treinamento Superação de Limites e Identificação de Potencialidades.

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