Mesmo aqueles que não forem amantes incondicionais de uma boa e divertida pescaria, irá entender em detalhes o relato deste que vos fala. Nunca fui um apreciador de peixes (mas sempre me delicio com uma sardinha à milanesa), muito menos um adepto de pescaria. Para mim, era coisa de pessoas maduras (pra não dizer mais velhas) e uma prática não muito complexa. Mas, na minha segunda empreitada na pesca, descobri o poder que uma pescaria pode causar ao ser humano. O poder da reflexão, da tranqüilidade aliada à descontração. O dia começa cedo, logo às 5 da manhã já estava de pé. O caminho era longo até o município de Suzano, região predominantemente rural de São Paulo. Fomos em quatro pessoas, dois pescadores por hobby e o restante, como eu, simples alunos, mas com muita disposição e um pouco de sorte. Tudo estava perfeito, tempo aberto, sol forte (até de mais da conta), uma turma bem animada de amigos, poucos pescadores e o principal: muitos peixes! Após arrumar vara, molinete, anzol e iscas, parti para as tentativas de fisgar pelo menos um peixe, mas logo na primeira arremessa, algo me dizia que a sorte estava do meu lado. Um tambacu de quase quatro quilos, em seguida, um matrinxã, de cinco. Ao decorrer do dia mais uns sete, oito peixes foram fisgados ou auxiliados por mim. Pura sorte de iniciante! Se a pesca não fosse esportiva, teria garantido o banquete de muita gente. O pesqueiro era muito propício ao sucesso deste jovem jornalista recém-formado e desempregado, mas cheio de disposição e loucamente atrás de trabalho. Um lugar bem afastado da cidade, bem arborizado, ar puro e uma calmaria que por alguns instantes chegava a sentir inveja dos peixes e pássaros que por ali habitavam. Tranqüilidade que faz parte do ritual da pescaria e estressados não são bem-vindos no recinto. Barulho mesmo só das nascentes, gorjeios dos passarinhos e das poucas conversas entre um pescador e outro, as famosas histórias de pescador. Com o ambiente favorável, a vara de pesca posicionada à espera do fisgar dos peixes e uma cadeira de praia inclinada, por um momento, fui além dos meus pensamentos... pra lá do subconsciente. Sentado defronte a todo aquele paraíso, desliguei-me dos problemas que tanto me afligem, pensei em pessoas, nos planos do presente e futuro, revi objetivos, enfim, pude repensar na vida de um modo mais consciente, foi uma espécie de regressão em plena pescaria. Pena que este momento ímpar e sereno foi interrompido por um chamado de um amigo, que avisava que a isca tinha sido fisgada. Levantei, fisguei e recolhi o peixe até a margem do lago, era um “bagre-alaranjado”, de pouco mais de três quilos. Após fotos, soltei-o ao seu habitat de origem e novamente me sentei, arrumei nova isca e a arremessei no lago e fiquei à espera de novos encontros com meu subconsciente. Nota do Editor: André Rosa é jornalista.
|