Hesitei em criticar a transmissão do Carnaval pelas grandes redes de televisão, pois, segundo os mais místicos, não devemos falar mal de ninguém. Dizem que essa atitude acaba prejudicando a nossa saúde. Não deveríamos maldizer nem os políticos, embora só os santos sejam capazes de tamanha proeza. Diante disso, o máximo que consegui fazer para desabafar um pouco depois de quatro dias em São Paulo, assistindo à folia pela TV, foi uma crítica, digamos, construtiva. São Paulo, aliás, não é mais a mesma. Já não fica tão vazia nos feriados prolongados. Consegui ver "Benjamin Button" (achei um pouco enfadonho) e tentei duas vezes assistir ao "Quem quer ser milionário". Antes mesmo do Oscar, entretanto, encontrei o cinema sempre lotado. A solução foi ver o Carnaval pela televisão. Mas entra ano, sai ano, e a cobertura continua de uma mesmice e um tédio sem iguais. A Rede Globo limita-se a transmitir os desfiles das escolas de samba de São Paulo e do Rio de Janeiro. E só. Para ela, o Carnaval resume-se a isso. Terça-feira já é um dia normal, com novelas, filmes antigos e Big Brother. Quanto à sua transmissão dos desfiles, está precisando, há muito tempo, de uma renovação. Os apresentadores e comentaristas de sempre repetem todos os anos os mesmos chavões. E, o que é pior, a narração nem sempre combina com a edição das imagens. Nos desfiles cariocas, Cleber Machado começava a falar de um carro alegórico, e a câmera cortava para a bateria; ele falava da porta-bandeira, e a câmera dava um close na comissão de frente. Isso tudo muito rápido, sem que o pobre espectador pudesse fixar a visão nesta ou naquela alegoria. Parece que há uma ordem técnica entre os diretores de TV da Globo de não deixar uma mesma imagem no ar por mais de três segundos. Ora, três segundos é o tempo que os míopes olhos deste velho jornalista levam para ajustar o foco. Quando apareceu a festejada Valesca Popozuda, por exemplo, não deu tempo nem de conferir a origem do apelido da moça. Da cobertura trash da Rede TV, então, é melhor nem falar. É sempre o mesmo desfile de drag-queens na porta do Baile Gay, a responder de onde vêm, sua profissão e quanto têm de silicone. Nada além. Mudam as moscas, digo, os repórteres-comediantes (que mais do que comédia agridem os entrevistados), mas a pauta é sempre a mesma. A melhorzinha de todas foi a Rede Bandeirantes, que, diga-se, está muito melhor equipada do que a Globo no que se refere à alta definição (HDTV). Passa a impressão de que está completamente equipada com essa nova tecnologia, ao contrário de sua concorrente carioca que só apresenta HDTV em um ou outro evento. A Band transmitiu o Carnaval de Salvador e de Recife, provavelmente patrocinada pelas respectivas prefeituras, é óbvio, mostrando bons momentos da festa naquelas cidades. Pena que seus apresentadores eram obrigados a chamar intervalos comerciais e reportagens-merchandising de cinco em cinco minutos, interrompendo com isso bons momentos da festa. Um deles ocorreu quando Daniela Mercury, Paula Lima e Simone Santiago improvisavam um reggae-jazz-axé com Gilberto Gil. No auge da canção, o apresentador Betinho entrou no ar para frisar que aquele era um momento sensacional, imperdível, mágico, histórico da música popular brasileira. E chamou um comercial. Aí deu raiva – o que também é péssimo para a saúde, é bom lembrar. Nota do Editor: José Luiz Teixeira é jornalista e edita o blog EscutaZé! (www.escutaze.com.br).
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