Até a mesma namorada nós temos. Ela é uma diabinha que não se conforma com um só, quer os dois, e muitos mais. Explicando melhor, ela é uma diabete, ou melhor, duas; uma pra mim e outra pra ele, Antônio Ribeiro da Conceição, nome artístico “Bule Bule”, que encontrei achado aqui em Guanambi, e fomos tomar um café. Um homem com as qualidades dele não se perde. A gente acha e quer conhecê-lo. Foi aí que descobri que ele, também com sessenta e um anos de idade, é muito bule para o meu café. Ele gosta de cantar repentes, eu de repente gosto de ouvir. Ele conhece gente que eu também conheço, um montão de gente ativista da cultura. Amelina Chaves, por exemplo. Estão curiosos? Querem saber quem é Amelina? Um dia eu conto. Por ora estou falando de “Bule Bule”. Mas adianto que nossa amiga é uma das grandes culturas de Montes Claros, Minas Gerais. Bem, não vou falar sobre todos, porque todos quer dizer muitos. Mas garanto que são muitos mesmo. Meu amigo toca viola, e eu toco um monte de coisa, menos algum instrumento musical. Toco as muriçocas do meu quarto, toco o gado do meu compadre, toco o machado na madeira para cortar lenha e fazê-la no fogo chorar, toco na tecla do computador, toco a vida... Mas não toco viola. Chapéu de couro é coisa que se compra na feira, mas nem todos têm uma cabeça tão própria para se colocar. Ele, o chapéu, é símbolo de cultura sertaneja, Não é próprio que eu o use só porque tenho cabelos brancos. É preferível quem não os tenha. “Bule Bule” é músico, escritor, compositor, poeta, cordelista, repentista, ator e cantador. Disto tudo eu acho que sou apenas escritor, poeta e ator, já que finjo a dor que deveras sinto. Mas já é alguma coisa igual com as coisas do amigo que arranjei. Portanto, somos iguais. E como somos! Eu falei dos meus cabelos brancos, mas ele pôde falar, orgulhoso, de sua longa e bem tratada barba branca. Eu que brinco de Papai Noel com especiais crianças de minha cidade, queria ter um barba longa para alisar, quando fizesse “hô, hô, hô!” Sentados no banco da praça, jogamos um bocado de conversa em nossos balaios e prendizes, apreciando a “Feira do Luar” às quatro da tarde. Que Lua quente??? Ali, em Guanambi, Bahia, durante uma semana acontecia um evento de artesões, iniciado às oito da manhã, e lá estava o poeta. Não um artesãozinho qualquer, mas “Bule Bule”, massagista de ouvidos dos bons, que ali levou suas esculturas musicais, entalhadas na bonita história dos poetas do sertão. E é quando digo, e que muitos reflitam, não são pequenos detalhes que nos fazem diferentes. Lembrei-me dos meus tempos de escola, quando era chamado de “branco azedo” pelos desafetos escolares. E lembrei-me de um amigo de segunda série, Abílio, que infelizmente não sei por onde anda. Era um negro, no tempo em que, erradamente, nós os chamávamos de preto. Agora o vejo Abílio no semblante de “Bule Bule”, que canta igualdade das raças, tolerando minhas conversas, e recordações. Seríamos mais iguais perfeitamente, até gêmeos poderíamos ser, se não fosse um detalhe: os dois meses que nos separam na data de nascimento. No mais, somos bem parecidinhos. Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
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