“O que tem para comer?” perguntou a repórter para uma menina de pele muito clara, cabelos dourados e olhos azuis em um comércio construído com tábuas e chão de cimento queimado, vermelho, na região da Ilha do Bananal. A menina respondeu, “almoço”. Minha companheira emendou ainda em pé, “tem uma saladinha?” Ela saiu e voltou com a mãe, rosto rosado, avental, lenço na cabeça e mãos de quem não brinca em serviço. “Pode sentar que eu já vou servir”. Minha companheira era novata no “trecho”. Ainda não tinha aprendido a abrir a guarda e deixar o brasilzão entrar. Ela nunca tinha rodado uma manhã inteira num sol de rachar com a poeira vermelha encontrando todas as frestas do carro para nos sufocar. E o cabelo coberto de pó? Para uma mulher acostumada aos tratos de uma cidade grande aquilo era um martírio. Aguardamos a comida tomando água de uma moringa de alumínio suada da água gelada. Só isto, ter água gelada naquele fim de mundo já era um luxo. Ai, a festa começou, para mim é claro. Que me desculpe os gourmets e os chefs da moda mas, não há comida brasileira melhor que esta, feita e comida na roça, sem adereços. Arroz, feijão, macarrão com carne moída, mandioca cozida, costela de boi ensopada, farinha e batata doce. A mesa já estava cheia de travessas e a repórter tinha no prato duas colheres de arroz, batata doce e mandioca. Alguns minutos depois a mãe trouxe quatro ovos na frigideira e duas enormes bistecas fritas, em seguida veio a filha com uma travessa de repolho e abóbora cozidas, ainda saindo fumaça e uma bela porção de porco conservado na banha. “Aqui a gente não tem folhas para salada, chove muito e as formigas não dão sossego, então eu cozinhei estes legumes para a senhora”. Estávamos saindo quando vimos na lateral do balcão-geladeira alguns potinhos de iogurte. “Nossa, como é que eu não vi isto aqui”, disse espantada a minha companheira. “Vou levar meia dúzia”. Eu queria ter levado tudo o que estava naquela mesa. Até logo. Até quando? Nota do Editor: Pedro Martinelli é um fotojornalista que anda, andou muito, continua andando, navegando, há 30 anos, registrando histórias da Amazônia.
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