"Nas leiras, dispostas com simetria agradável, verdejavam... legumes de todas as castas" (Trindade Coelho, Os meus amores, pág. 92). Nunca li esse livro, nem tampouco conheço o autor, soube da existência dele quando fazia pesquisas para o meu projeto de reforma da língua portuguesa, que estou adiando há mais de trinta anos e agora resolvi fazer. Eu queria saber o significado da palavra leira, que é o final de prateleira, palavra com a qual absolutamente não concordo. Para que servem as prateleiras? Como todos sabemos para guardar coisas em suas diversas partes. É obvio que sendo um local cheio de partes, deveria ser parteleira, com leira significando muitas. Muitas partes, parteleira. Lógico, claro e cristalino. Não sei como o Houaiss não pensou nisso. Também é evidente que a denominação popular da ave do gênero dos psitacídeos, muito encontradiça no país está completamente equivocada. Papagaio. Papa todos sabem que é o chefe da Igreja, o que poucos sabem é que gaio é o cabo que agüenta para vante o pau de surriola, ou ainda é um dos guardins do pau de carga, portanto nada a ver com a ave. Esses paus também não sei a que vieram. O correto deveria ser "papagalho", mais popular, mais "Genoíno", nestes tempos socialistas. Papa tem a ver com a ave falante o que está absolutamente correto uma vez que falar é das principais atribuições do Sumo-Pontífice. Galho é galho, ninguém é tão ignorante a ponto de não saber coisa tão óbvia. Também acho estranha a denominação dada às peças de cerâmica que usamos para cobrir as casas. Telhas, enquanto os diáfanos véus tecidos pelas aranhas são denominados teias, o que é difícil para a população interiorana que chama as telhas de teias e as teias também de teias embora todos saibam quando a conversa é sobre teia, que ninguém confunde com teia. Outro dia vou discorrer sobre o tema cumeeira, começando por meeira, já que o começo da palavra é universal, todos sabem o que é e possuem. Porque uma parte do telhado - ou seria teiado? - que fica em cima começa com a singela denominação de algo que fica embaixo? Mistérios que um dia desvendarei.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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