A existência dos chamados "professores nota zero" é um grande grito de alerta para a necessidade de medidas muito sérias para salvar o ensino. Como pode alguém que "zera" numa prova de concurso ter o direito de ir para uma sala de aulas para ensinar às crianças e jovens aquilo que, pelo menos teoricamente, não sabe? Faz muito bem a juíza da 13ª Vara da Fazenda Pública ao determinar o afastamento desses despreparados profissionais. No interesse público, o Estado não deveria nem recorrer da decisão. É bom lembrar que esses professores, agora qualificados judicialmente como inabilitados, são vítimas da política perversa que sucessivos governos têm praticado no setor. Muitos deles tiveram formação deficiente proporcionada pela escola já debilitada e outros (os antigos) são vítimas do perverso processo de achatamento salarial do funcionalismo que os obriga a trabalhar em jornadas duplas, triplas e até quádruplas para conseguirem saldar seus compromissos financeiros. Nesse processo de trabalho "escravo", não conseguem viver sua vida particular e muito menos se reciclar profissionalmente. Desde que os governos decidiram produzir números em vez de qualidade no setor educacional, o outrora respeitado e admirado professor passou a ser uma vítima da perigosa engrenagem. Aos poucos ele foi perdendo sua condição salarial e foi assumindo novas "classes" para conseguir manter o padrão de vida. As autoridades da Educação - interessadas só nos números de "formados" - foram, cada dia mais, afrouxando as exigências ao aluno, chegando ao lamentável momento da progressão continuada onde, mesmo não sabendo, o estudante é promovido de uma série para outra na escala do ensino. Acabaram os outrora temidos exames finais e até mesmo as notas do meio do ano que garantiam aos melhores o direito de progredir sem passar pelos exames. Agora basta comparecer para ter garantida a promoção. A situação é tão gritante que, no final do ano passado, vimos o caso da estudante que, promovida, foi à Justiça para "repetir" o ano, pois não havia aprendido o que é ensinado naquele nível. Pior do que não ter um diploma é tê-lo e não saber o que dele fazer. A escola, no formato hoje vigente, tem sido um mercado de ilusões, onde professores fazem que ensinam, alunos fazem que aprendem e o Estado finge que está cumprindo sua obrigação. Precisamos de uma reforma imediata. Que o professor ganhe algo suficiente para poder trabalhar, ter sua vida social-familiar e participar de reciclagem profissional. Que o aluno receba as instruções, passe pelos testes e só ascenda à série seguinte se realmente tiver aprendido. É o mínimo que a sociedade tem o direito de exigir num país onde 25% de tudo o que é arrecadado em impostos são aplicados na Educação. Queremos Educação de qualidade, profissional e honesta! Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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