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Crônicas
26/03/2009 - 17h15
Um livro vivo lacrou suas páginas
Seu Pedro
 

Ele viveu o dobro de sua idade real, ao ser declarado o seu falecimento. As páginas de sua memória já se abriam devagar, mas até no último dia seu sorriso enfeitava aquele rosto comprido. A bengala que lhe dava autonomia nas ruas da cidade estava ao lado de sua cama, como se esperasse o dono para mais um dia de convivência, nas caminhadas pelas calçadas nem sempre fáceis de serem percorridas.

Eram 12:00 horas de uma quinta-feira quando eu retornava para casa, bem próximo à em que “Quia” morava. Dei rápida entrada na casa do amigo, cercado de filhas e netos, com cuidado extremo, pois Ezequiel Manoel Cotrim seria visto vivo pelas última horas. Era morte anunciada pela falência gradativa dos órgãos. Mas o sorriso continuava preservado. Às 14:00 horas, da janela de minha casa, avistei o carro funerário. Trazia suporte para o caixão, que também chegava. Era o lacre do livro vivo que foi o pai, avô, bisavô amado.

Aos 87 anos, ainda estava com memória, mesmo que mais lenta, porém lembrando fatos. Não deixava de ser consultado por amigos, que gostavam de história, e até por filhos e netos, que buscavam resgatar a memória da família, uma trajetória de “Quia” no Gentio, distrito hoje desaparecido nas águas da barragem de Ceraíma. Foi trilha de passagem histórica da Coluna Prestes. De lá, há muitas e belas histórias e o “Livro Vivo” sabia de tudo.

A família Cotrim é grande. Mescla-se com os da família Teixeira, dos Donato, e outras da região, em laços de historiadores, que mantiveram, e mantêm viva a história da região. “Quia” foi, mas não levou a história, pois a multiplicou. Não guardava para si o que fazia, sempre pronto a falar e rir. As tristezas, com ele, eram mandadas embora. Quando o conheci, já tinha mais de setenta anos, e apreciava vê-lo jogando buraco e cavando histórias para contar.

Foi expressivo comerciante, empreendedor das de cinqüenta e sessenta, e foi vereador de Guanambi no tempo em que vereador andava de bicicleta e pagava para trabalhar. Que estejam saudosos os seus, mas tristes não. Afinal, “Quia”, pelos registros de tantas histórias, que ultrapassam limites geográficos, se contados seus momentos, terá mais de 174 anos. O dobro de sua idade biológica. E não há necessidade de pedir a Deus que receba tal alma. Ela já está lá, registrando histórias do céu.


Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.

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