Uma recente pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo mostra que muitos idosos não estão fazendo a "lição de casa" quando o assunto é o cuidado com a própria saúde. E na terceira idade é muito mais difícil prevenir doenças quando falta determinação e quando não se evita o sedentarismo. Reclamar do sistema de saúde pública, que deixa muito a desejar em termos de atendimento e qualidade, particularmente em relação à população idosa do país, que tanto necessita do serviço, infelizmente virou rotina. Também não é novidade a insatisfação dos idosos em relação aos planos de saúde e aos exorbitantes preços e exigências praticados pelas operadoras. Estas alegam elevação dos custos para cortar coberturas e descredenciar hospitais e laboratórios especializados. Cobra-se muito e oferece-se o mínimo. Não é exagero algum afirmar que o idoso no Brasil está muito distante de ver respeitado seu direito ao bem-estar. Os que dependem de uma aposentadoria de um ou dois salários mínimos não têm para onde fugir (se correr o bicho pega, se ficar o bicho come). E não é difícil achar responsáveis por tal situação - além dos planos, são conhecidas as deficiências dos postos de saúde e dos serviços oferecidos através do Sistema Único de Saúde (SUS) nos hospitais credenciados. Mas a pesquisa da Secretaria da Saúde mostra o outro lado dessa realidade e aponta para a necessidade de o idoso ser estimulado a cuidar do próprio bem-estar, fazendo a sua parte. Pelo levantamento, realizado em 2008 em parceria com o Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (Celafiscs - entidade responsável pelo programa Agita São Paulo), descobriu-se que os idosos paulistas lideram o ranking de pessoas que menos praticam atividades físicas. A pesquisa, com base em 2,6 mil entrevistas com pessoas de ambos os sexos na cidade de São Paulo e em outras 13 regiões do Estado, revelou que 28,9% dos idosos com 60 anos ou mais - considerados da terceira idade - não atendiam às recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a reserva de 30 minutos de atividades físicas, de movimentação do corpo, pelo menos cinco dias por semana. Entre a população em geral, o índice cai para 19,4%. Os dados revelam ainda mais detalhes sobre o sedentarismo. Entre os idosos que participaram da enquete, 8,4% foram considerados totalmente sedentários e 10,3% foram classificados como irregularmente ativos totais, o que quer dizer que erram no tempo e na frequência em que praticam alguma atividade física. Outros 10,2% foram avaliados como irregularmente ativos parciais, ou seja, erram ou na quantidade de dias ou no tempo recomendado para os exercícios. A informação contida na análise é importante para que cada idoso faça um julgamento autocrítico sobre como está sua saúde atual e como poderia estar caso fizesse a parte que lhe cabe. Já são mais do que conhecidos e muito divulgados por veículos de comunicação de todo o mundo os benefícios que a prática de qualquer atividade física traz na prevenção de problemas circulatórios, renais e outros tantos males. Isso, claro, quando realizada com acompanhamento profissional e após uma rigorosa avaliação médica. Os nossos idosos devem criar tal consciência. O governo paulista até tenta incentivar e criar a cultura do anti-sedentarismo. Anualmente, em conjunto com o Celafiscs, promove o programa Agita São Paulo, organizando várias atividades em diversos pontos do Estado. A motivação é válida, mas é necessário que cada um faça dela o motivo para uma grande transformação no seu estilo de vida. Sabendo como é ruim a assistência à terceira idade, seja através do SUS ou através de convênios médicos particulares, o melhor mesmo é, literalmente, correr, para não precisar recorrer a eles depois. Os nossos "velhinhos" também devem suar a camisa! Nota do Editor: Milton Dallari é conselheiro da Associação dos Aposentados da Fundação Cesp e diretor administrativo e financeiro do Sebrae-SP.
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