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SEÇÃO
Crônicas
02/04/2009 - 07h03
Textualmente paranormal
Antonio Brás Constante
 

Todo escritor tem múltiplos universos, repletos de idéias dentro de si. Várias linhas de pensamentos atemporais que se conjuminam em curiosos contatos entre os seres saídos direto da ficção com os recônditos da mente de quem os escreve.

Foi numa dessas explosões de pensamentos e mundos que surgiu Odete. Uma dançarina francesa e desempregada do século XVIII, que ganhava a vida exercendo funções desinibidas, como um exercício de profissão em locais do baixo meretrício.

Apesar de ser francesa e eu brasileiro, graças a uma fusão textual e milagrosa, conseguimos nos entender perfeitamente. Ela gostava de falar, de narrar os episódios de sua vida, enquanto eu anotava tudo mentalmente (dentro do possível), já que Odete ficava fazendo cócegas no meu subconsciente com uma pontinha inexistente de seu dedão do pé.

Ela falou de todos os problemas que lhe atormentaram, bem como da felicidade em saber que eles já não existiam mais, pois o tempo (se passaram alguns séculos desde o seu ultimo e derradeiro suspiro), cura todas as chagas que a vida, sem aviso, abre em nossos corações.

De repente Odete se cala, me deixando seguir pensando sozinho a passos rápidos para uma ala desconhecida de minha consciência. Chegando lá, ela marca novamente sua presença através de meus sentidos, começando a dançar ao som de uma agitada rumba, cuja melodia até então eu desconhecia completamente.

Odete não demonstra qualquer preocupação com minhas dúvidas, partindo dali ao ritmo de seu próprio gingado. Outra vez me encontro sozinho entre o aqui e o ali. Entre a fantasia e a realidade. O reino da ficção é um ponto de parada com tamanho infinito e incerto. Porém, antes que minhas divagações pudessem ficar complexas demais para se escrever, ou profundas demais para se ler, Odete volta rodopiando com a leveza dos ventos da mais pura fantasia.

Ela chega como uma verdadeira cigana, pegando em minha mão e me puxando para cima de um tablado invisível, em total sintonia com o impossível. Mas, como até mesmo em textos estranhos nem sempre tudo são flores, sem o menor aviso o tempo fecha (traduzindo: um grande problema se aproxima com jeito de poucos amigos), o nome do problema tem o som de algo parecido com gergelim, Gengiskan ou gengivite. É o tipo de problema que gosta de chegar arrebentando tudo. Travando verdadeiras guerras mediúnicas, que causam seqüelas irreparáveis que repercutem até mesmo no mundo real (algo bem pior do que ficar com o cabelo despenteado).

Odete, percebendo o perigo, some em uma cortina de fumaça verde-esmeralda. Para evitar problemas eu sigo o exemplo dela (sem deixar qualquer rastro de fumacinha que possa me comprometer), encerrando o contato com os infinitos e múltiplos outros mundos, e abandonando à caneta que termina sozinha este texto, deslizando tranqüila sobre um papel timbrado com o símbolo extraído no âmago da retina de sua própria percepção e usando como tinta a imaginação...


Nota do Editor: Antonio Brás Constante (abrasc@terra.com.br) é escritor.

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