Nós, telespectadores brasileiros da Bahia, e dos demais estados fora do eixo Rio - São Paulo, deveríamos ter vergonha e criar uma comunicação só nossa, em que pudéssemos ter nossas opiniões respeitadas, já que não somos parte do Brasil, pelo menos pelo que entendem os tidos líderes da telinha. Programas de TV, produzidos pela TV Globo e pelo SBT, só elevam as coisas do Nordeste quando se trata de regiões privilegiadas pela natureza, quando em nossas praias desfilam mulheres esculturais quase nuas e nas avenidas os trios elétricos de axé. Assisto o repetitivo “Troféu Imprensa”, e nele, tristemente, verifico que os jurados e colegas de imprensa de Silvio Santos são os mesmos desde que a Via Dutra era de mão única. O eixo é o mesmo. E o próprio Silvio diz: “pesquisa feita com 2.100 pessoas, 1.050 no Rio 1.050 em São Paulo”. Nada errado no resultado. O errado é a localização da pesquisa. Ou os demais estados não são Brasil, não podem opinar; ou não assistem às novelas da TV? Nordeste dá audiência. A prova é que não se assiste um “De volta para minha terra”, que não seja a protagonista uma família nordestina. Nos estados do Sul não existe miséria, não existem migrantes frustrados? Fica patente que o programa não é um largo programa de assistência social, que resolva o problema da migração social. É, no muito, um programa de divulgação comercial de empresas que descontam do Imposto de Renda o que gastam e declaram com esses remendos sociais. Lembro que uma vez briguei, e briguei feio, com uma jornalista que veio, após contatá-la via Internet, a meu convite, trazer um projeto de “Sertão sem fome”. No início foi uma maravilha. Afinal, Guanambi é terra que defendo. Nela vivo e tenho família. Como em qualquer lugar país, ao Norte ou ao Sul, temos por aqui necessidades. A minha briga começou ao tomar conhecimento de uma exposição fotográfica no saguão de uma grande agência bancária da Avenida Paulista, em São Paulo, feita para divulgar o projeto, e agregar simpatias e contribuintes. Lógico! As enormes fotos utilizadas nos painéis, ao lado de “mentirosas” redações, davam conta de um Sertão de miséria. Ali não havia uma foto sequer de nossas praças verdes, de ruas sem meninos de rua, sem mendicância instituída, sem arrastões, sem greve de desempregados, embora nossas poucas indústrias. As fotos só mostravam o lado triste da cidade. Em nenhum momento disseram sobre as ações sociais que são desenvolvidas ao irmão menos feliz. Certa ocasião, atendendo a um convite para participar de um programa de jornalistas, em São Paulo, em um dos momentos um colega me questionou sobre o hábito alimentar da rapadura e da farinha, e sobre o jegue como transporte. Respondi que felizmente nós tínhamos estas alternativas, folclóricas, tradicionais, tanto que uma grande maioria estacionava suas camionetes importadas na porta das churrascarias e, enquanto o churrasco assava, alugava um jegue e dava uma voltinha. E como me dá pena que jornalistas e formadores de opinião em geral pensem em Sertão miséria, que não conheçam a realidade de um Sertão rico, próspero. E que seria mais rico se políticos e outros miseráveis – não em pobreza, mas por criarem misérias –, roubassem menos nossa intelectualidade, nossa capacidade de trabalho. Deixem-nos usar nossas riquezas, a exemplo dos minérios urânio e ferro, que os sulistas usam como matéria-prima. Mas é do sertão que eles saem, para a riqueza do Brasil. Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
|