O País precisa dar mais atenção à sua academia. Obviamente, não nos referimos a ginásios esportivos, mas à rede de pólos de conhecimento, constituída pelas universidades. O mesmo direcionamento equivocado que norteou a expansão do ensino superior – a valorização da quantidade em detrimento da qualidade – parece ter contaminado a produção acadêmica nacional. De acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC), o Brasil é o maior produtor de artigos científicos na América Latina: só em 2007 foram publicados mais de 19,4 mil, o que corresponde a 2,02% do total desses textos no mundo e à décima-quinta posição no ranking internacional, à frente de nações desenvolvidas e de tradição acadêmica mais antiga, como a Suíça (1,89%) e a Suécia (1,81%). O problema é que o ritmo da produção acadêmica não se reflete em inovações tecnológicas ou avanços significativos em outras áreas de estudo. Isso é o que se pode extrair de outro ranking, o de citações a artigos nacionais em outras publicações. Nessa lista, o País cai para a 25ª posição, com 57,6% de menções entre 2003 e 2007, enquanto a Suíça passa à frente e fica em segundo, atrás somente da Dinamarca. A criação de teorias de baixo impacto e com pouca aplicabilidade prática não deixa de ser um desperdício de horas de estudo e de energia criativa. Aliás, está aí outra chaga antiga da educação brasileira: a dissociação entre o saber e o fazer. Nossos cientistas poderiam dar prioridade a teses que visam à resolução de dilemas palpáveis. Do contrário, o Brasil corre o risco de ser aniquilado por seus problemas seculares e com bibliotecas abarrotadas de teorias inúteis. A reflexão é importante, mas não vale muito se vier desacompanhada da ação. Tudo isso reforça a importância do estágio como uma fase de transição entre o aprendizado teórico e o prático. Além disso, o estagiário também é uma ponte entre esses dois ambientes, promovendo o perseguido intercâmbio de informações. O jovem em treinamento nas empresas abastece as aulas com temas reais, elabora seus trabalhos acadêmicos com informações totalmente extraídas de suas observações pessoais no mundo do trabalho e tem seu rendimento aprimorado como estudante e como estagiário. Uma pesquisa realizada pelo instituto TNS InterScience mostrou que 53% dos professores e 40% dos gestores de RH notam que os jovens passam a exigir mais conhecimentos dos professores e de seus supervisores quando têm vivências práticas. Nota do Editor: Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE, da Academia Paulista de História – APH e diretor da Fiesp.
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