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Opinião
23/04/2009 - 10h00
Ele estava certo e todos estavam errados
Mario Guerreiro - Parlata
 

Quando você tem uma posição firmada a respeito disso ou daquilo e acredita que pode oferecer fatos e argumentos para sustentar sua posição, mas todo mundo pensa diferente de você, o que você faz?

Cede à opinião da maioria, como um Maria-vai-com-as-outras, porque é impossível que você esteja certo e todos os outros errados ou continua sustentando sua posição contra tudo e todos?

Bem, se você for político, você cederá imediatamente, porque o que está em jogo, a única coisa que interessa a você, é o voto do eleitor. Na realidade, você não tem nenhuma convicção e sua opinião está ao sabor da quantidade de votos que poderão elegê-lo. Além disso, como bom negociante que é, todo político sabe muito bem que “o freguês tem sempre razão”.

Porém, se você é um homem que tem idéias e as defende ardorosamente, porque acredita que pode fazer isso apresentando fatos bem estabelecidos e sólidos argumentos - mesmo que admita sempre a possibilidade de estar equivocado – você não cederá à opinião da maioria, porque - por mais errado que isto possa parecer – é possível que um indivíduo esteja certo e todo mundo errado, redondamente errado!

Pensar assim pode ser um sinal de um indivíduo teimoso e obstinado, que jamais dá seu braço a torcer. Mas pode também ser um sinal de um indivíduo que jamais abre mão de sua posição quando ele acredita em algo e acredita estar de posse de fatos e argumentos capazes de embasar suas convicções.

São Tomás de Aquino - que além de santo, era também um grande filósofo - assumiu a defesa de Jó quando todos até então o consideravam um indivíduo insensato, teimoso e obstinado em sua vã pretensão de contra-argumentar com Deus.

O referido filósofo sustentou sua defesa baseado na idéia de que quando um indivíduo acredita firmemente ter razão e apresenta justificativas para aquilo em que acredita, ele está apto a discutir com qualquer um, até mesmo com Deus. Sendo a razão um dom ofertado ao homem por Deus, é de se esperar que ele faça uso da mesma para fundamentar aquilo que pensa ser correto.

E só para contrariar a opinião da maioria impensante, a idéia de que é possível que um indivíduo esteja certo e que todo mundo esteja errado pode ser alicerçada em alguns fatos históricos paradigmáticos.

Na época de Galileu (1564-1642) todos – do mais ignorante camponês até os mais bem instruídos e sábios - acreditavam piamente que a terra era plana; mas o brilhante cientista moderno não só pensava como também tinha bons argumentos para mostrar que todo mundo estava errado. E estava mesmo!

Gregor Mendel (1822-1884), o pai da genética, foi considerado louco quando apresentou o resultado de seu experimento com as ervilhas verdes e vermelhas. Suas últimas palavras foram: Meine Zeit wir kommen! (Meu dia chegará!) E chegou mesmo!

Mas há também o caso daqueles que - mesmo coberto de razões e com fatos bem estabelecidos para respaldar sua posição - mudam de idéia por se sentirem pressionados pela opinião pública (ainda que não sejam políticos sequiosos por votos) e por não acreditarem ser possível um só indivíduo estar certo e todo mundo errado.

Um dia depois de admitir a possibilidade de mudar a sua opinião a respeito do fechamento das escolas itinerantes do MST - onde se ensina Marx, Lenin, Che Guevara e estratégias de guerrilha camponesa - o Procurador do Ministério Público do Rio Grande do Sul, Gilberto Thums, deu uma entrevista a Zero Hora e à Rádio Gaúcha.

Entrevistador: “Por que o senhor está tirando o time de campo?”

Thums: “É uma posição suicida. É de extrema antipatia. Sou demonizado em todos os sites do mundo relacionados com o MST. Não tenho apoio do Ministério Público em geral no país inteiro. Então, se eu estou sozinho, estou chegando à conclusão de que estou errado. A pressão é muito forte.” (em Zero Hora,9/4/2009).

Esta é apenas uma pequena amostra dessa entrevista cheia de verdadeiras ‘pérolas republicanas’. A começar pela pífia inferência de que se alguém defende uma idéia e está sozinho, então sua idéia está errada. Como faz falta um cursinho de lógica elementar! Além disso, pensar assim é incentivar a proliferação de Marias-vão-com-as-outras e não de espíritos dotados de autotelia e capazes de exercer seu senso crítico, conforme manda a boa pedagogia.

E além disso, desde quando um membro do Ministério Público tem que ser simpático a quem quer que seja?! Sua atribuição constitucional precípua é bastante clara: exercer implacável fiscalização da lei e denunciar sempre que a mesma for violada. Doa a quem doer! E no caso do MST são públicas e notórias as incontáveis e continuadas transgressões da lei!

Se estivéssemos nos Estados Unidos, em que promotores são eleitos ou nomeados pelo chefe do Poder Executivo, ainda teria algum cabimento a alegação de pressões da opinião pública, mas estamos no Brasil em que promotores são selecionados mediante rigoroso concurso público e não devem satisfações a eleitores nem tampouco a nomeadores.

No entanto, é um fato espantoso e alarmante a tibieza das instituições neste país em que promotores cedem a pressões de organizações sabidamente criminosas como é o caso dessa caterva de oportunistas e desordeiros, o famigerado MST.

E não menos espantoso e alarmante fato a complacência da maioria avassaladora da opinião pública em relação a “movimentos sociais” do mesmo naipe que o MST. Poucos emitiram uma nota de repúdio às referidas tibieza e complacência. Eis uma ilustre exceção:

“A Associação dos Oficiais da Brigada Militar do Rio Grande do Sul veio a público manifestar seu apoio às iniciativas de restabelecimento das normas constitucionais e infraconstitucionais realizadas pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, em especial pela iniciativa do Procurador de Justiça Gilberto Thums, em face das reiteradas ações de desrespeito à integridade física e do direito de propriedade perpetrada por chamados ‘movimentos sociais’ encabeçados pelo MST.”

“O histórico de esbulho e destruição desse autodenominado ‘movimento social’, que não passa de um movimento organizado que busca a instauração de um Estado totalitário em nosso país (o grifo é meu), requer do poder público, em especial do fiscal da lei, o MP, ações eficazes para que a lei não reste desmoralizada e o direito de cada cidadão de viver em paz em sua propriedade, no campo e na cidade, seja respeitado”. [em diegocasagrande.com.br, 10/4/2009]

Indagado pelo entrevistador se ele se sentia ameaçado, Gilberto Thums fez uma revelação capaz de pôr nossos cabelos em pé:

“Estou recebendo sinais fortes. Tudo que falo com as pessoas em off pelo telefone está sendo gravado. (...) Aconteceu também de uma pessoa jogar o carro contra mim enquanto estava fazendo as minhas corridas. Na hora, achei que fosse um louco. Depois que passou o susto, fiquei pensando a que se deve isso. Talvez eu esteja com paranóia [obs. minha: entenda-se: padecendo de um delírio persecutório típico da paranóia], mas muitas coisas estão mudando na minha rotina” [fonte: Zero Hora, 9/4/2009].

Não, não se trata de perseguição imaginária decorrente de delírios persecutórios, caro Procurador, mas sim de perseguição real feita por delinqüentes a serviço de ideologias espúrias. Tudo que eles queriam era amedrontá-lo e, ao que parece, lamentavelmente, conseguiram alcançar seu objetivo.


Nota do Editor: Mario Guerreiro (xerxes39@gmail.com) é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).

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