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Opinião
24/04/2009 - 11h00
Faria melhor com um móbile
Percival Puggina - Parlata
 

Em plena reunião do G-20, Chávez saiu de sua cadeira e foi até onde estava Barack Obama. Nas imagens de tevê que registraram o fato ficou nítida a perturbação inicial do ianque, conhecedor da rotineira falta de juízo do venezuelano. “O que esse sujeito vai aprontar?”, deve ter pensado durante a aproximação. No entanto, Chávez lhe trazia um regalo e o presidente norte-americano descontraiu-se de imediato. Tratava-se de uma versão da obra “Veias abertas da América Latina” do uruguaio Eduardo Galeano.

Para quem não sabe, o livro em questão, vendido como sendo uma leitura que rompe com o ensino tradicional da História, foi publicado em 1971 e sustenta tese originalíssima: nosso subcontinente é pobre porque sempre foi explorado – primeiro pelas metrópoles ibéricas, depois pelos ingleses e, finalmente, pelos norte-americanos. Tenho certeza de que sequer o esclarecido leitor destas linhas tinha notícia de tão inovadora visão da realidade regional, não é mesmo?

Ironias à parte, o mais alienado colegial dos anos cinqüenta do século passado lembra que esse assunto, já então, era tema de colégio. Ora trazido por professores formados na academia dos anos 30, ora por jovens militantes da esquerda, doutrinados nas células onde se planejava o assalto ao poder para alinhar o Brasil com as “admiráveis conquistas da humanidade” alcançadas pela defunta União Soviética.

Enfim, essa é a tese do livro que Chávez escolheu a dedo para presentear a Obama, o que mostra o quanto está atualizada a leitura do caudilho instalado no Palácio de Miraflores. Na mesma semana em que seu pupilo boliviano Evo Morales se declara comunista, marxista e leninista, Chávez resolve entregar esse mimo ao presidente ianque. Se é para ajudá-lo a dormir, faria melhor presenteando-o com um móbile.

O supostamente revolucionário livro de Eduardo Galeano é, na verdade, uma obra reacionária que conspira a favor da ideologia do autor e contra a prosperidade dos nossos países, atribuindo os problemas sociais e econômicos da América Ibérica à ação de maliciosos agentes externos que se vêm aproveitando da nossa inocência. Nada melhor do que a realidade cubana para o desmentir. Há meio século, a antiga Pérola do Caribe rompeu com os Estados Unidos, assumiu, sem pagar um centavo, todo o patrimônio norte-americano na ilha, nunca mais enviou lucro para o exterior, abriu a veia dos russos e passou a beber sangue soviético, em rublos, durante trinta anos. Resultado? Cuba virou uma sucata e atribui sua miséria a quê? À má vontade comercial dos Estados Unidos. Me poupa, Galeano.

Quem leva a sério o livro em questão, a exemplo de Chávez, se deixa cegar pela ideologia e acaba acreditando que somos pobres por culpas alheias. Até parece que aqui sempre se valorizou o trabalho, o mérito e o espírito de iniciativa. Até parece que aqui sempre tivemos bons governos, instrumentos políticos corretos, gestão fiscal rigorosa e elevado espírito público. Até parece que aqui se combate a corrupção e se cultuam elevados valores. Até parece que aqui lugar de bandidos e de corruptos é na cadeia e a Lei se impõe igualmente a todos. Com tantas e tão nobres condutas, se temos uma sociedade às voltas com problemas sociais e econômicos só pode ser por culpa dos outros, não é mesmo? Ou, como contestou alguém, num site em que se discutia a dívida pública brasileira, iniciada com a Independência: “Tente dizer ao seu patrão que não vai trabalhar hoje devido a um resfriado que você pegou há dez anos”.


Nota do Editor: Percival Puggina (www.puggina.org) é arquiteto e da Presidente Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública. Conferencista muito solicitado, profere dezenas de palestras por ano em todo o país sobre temas sociais, políticos e religiosos. Escreve semanalmente artigos de opinião para mais de uma centena de jornais do Rio Grande do Sul.

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