A certa altura do seu bate-boca com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, o ministro Joaquim Barbosa o exortou: “Saia à rua, ministro Gilmar, faça o que eu faço.” “Eu estou na rua, ministro Joaquim”, respondeu o outro. Ao que Barbosa retrucou: “Vossa excelência não está na rua não, vossa excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro.” Claro que, para ele, estar na rua é estar em contato com a opinião pública, também conhecida como a opinião das ruas. Claro também que Barbosa quis dizer com isso é que a rua reprova o comportamento do titular do STF. Quis dizer ainda, na tréplica, que a mídia é uma coisa e a rua, outra – embora ambas tenham a ver com a formação das opiniões. Nas sociedades de massa, a mídia é a fonte primária de informação sobre tudo que não faça parte da experiência direta das pessoas e dos seus círculos de relações (parentes, amigos, colegas, vizinhos...). Quanto ao resto, a relação entre a mídia e o público passa por uma série de filtros antes de se cristalizar em idéias, juízos e eventualmente atitudes. O percurso entre a notícia e a visão que dela se acaba tendo é uma jornada por etapas – das quais a principal, talvez, envolve a participação dos chamados “formadores de opinião”. São os que se distinguem pela confiança que inspiram e pela impressão que transmitem de saber do que estão falando. A sua autoridade deriva, portanto, de terem eles “moral”, em mais de um sentido da palavra, para persuadir o próximo da procedência do que dizem. Nem todos, evidentemente, formam opiniões sobre qualquer coisa e há uma troca permanente de papéis entre formadores e formados, conforme os assuntos. Essa interação é muito ampla. Para começar, até a importância que se atribui a um fato divulgado pode depender dela. Além disso, os formadores de opinião nos grupos sociais a que se pertence também formam opiniões sobre os próprios formadores de opinião da mídia. No limite, sobre a própria mídia. É como se em cada esquina de conversação nos nossos grupos de convivência houvesse alguém mais credenciado do que os outros para orientar o tráfego de idéias. Para os críticos de Gilmar Mendes, na esquina onde se avalia o seu desempenho, ele parece vir na contramão do sentimento da maioria. Em parte por seu protagonismo – a frequência com que aparece na imprensa falando com desenvoltura sobre tudo que é assunto –, em parte pelos dois habeas-corpus que concedeu a Daniel Dantas. Terá sido isso que o ministro Joaquim Barbosa quis dizer quando acusou Mendes de estar na mídia, “destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro”. Seria interessante saber se ele também acha que a mídia é mais acolhedora do que a rua para o presidente do Supremo. Se for verdade, os formadores de opinião na sociedade terão prevalecido sobre os formadores da opinião publicada.
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