Nonato era um desses camaradas que sofriam de um retardamento mental. Era forte como um touro e dócil como um gatinho. Seu primeiro e único emprego foi nas empresas do senhor Magal, no interior do Amazonas. Na sua mente ele não definia bem o que era hierarquia, mas obedecia cegamente o senhor Magal. Ninguém além dele conseguia ser obedecido quando pedia ou ordenava alguma coisa ao Nonato. Uma certa vez, Magal estava num sítio, nos arredores da cidade, jogando dominó e bebendo com amigos, quando terminaram os cigarros. Ele prontamente chamou o Nonato e ordenou: - Pegue a bicicleta do Zé, vá lá na cidade comprar cigarro pra mim. Nonato obedeceu sem pestanejar. Pegou o dinheiro, a bicicleta e seguiu. Voltou, quase duas horas mais tarde, trazendo o cigarro. - Que aconteceu? – perguntou Magal - Por que tanta demora? - O senhor mandou eu pegar a bicicleta. - Claro, para ir mais rápido. - Acontece que eu não sei andar e ela me atrasou muito. Nonato havia sido dispensado do serviço militar e teve de prestar juramento à bandeira. Um grupo de oficiais e soldados do exército estava na cidade para oficiar a solenidade. Ele estava no meio da turma toda, solenemente vestido e perfilado, quando o tenente o chama: - Reservista Nonato! Se amanhã a pátria estiver em perigo, o senhor estará pronto para protegê-la? - Amanhã, não sei. Aí o senhor precisa falar com o Magal. (Fato verídico. Os nomes foram trocados.)
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