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Crônicas
13/05/2009 - 17h12
O camarada
José Nivaldo Cordeiro - Parlata
 
Crônica do Quinho

Mais uma passeata na Paulista. Quinho observava o de sempre, as palavras de ordem, as bandeiras, o carro de som barulhento... Muita gente de camiseta vermelha e boné, quase uma passeata do MST. É interessante o ativismo dessa gente, pensava Quinho, que está no poder e se comporta como se não estivesse. Fazem uma luta contra si mesmos, como lutadores de boxe fazendo sombra. “Provavelmente teste de lideranças, mostrando capacidade de mobilização”, falou de si para si. Mas Quinho percebia a falta de entusiasmo dos manifestantes, mesmo falta de convicção. Estavam ali os assalariados de passeata, os profissionais do partido e dos sindicatos. O que menos tinha ali era povo. Uma passeata burocrática.
Encostado na caixa dos Correios, a boca de ferro posta ali para receber cartas, eu o vi observando a multidão. Muito circunspeto, prestava atenção nos tipos. Homens e mulheres puxando palavras de ordem contra o capitalismo, o governo e praguejando contra os salários. Quinho me viu e sorriu, gritando: “Doutor, que barulheira!” Falei: “Quinho, vamos para o Baú do seu Pedro, a grande livraria?” Ele assentiu e entramos no Conjunto Nacional.
– E aí, Quinho, quais são as novas?
– Estou penalizado, Doutor, penalizado.
– O que houve?
– Viu o Delúbio no noticiário? O camarada que era tesoureiro do PT na época do mensalão?
– Sim, vi, Quinho. Expulsaram-no do partido e agora ele quer voltar. Mas os caras o PT não o querem mais de volta.
– Pois é, doutor, não querem mesmo. Não caiu a ficha para o camarada Delúbio. Ele foi usado como o pára-raios daquele escândalo do mensalão. Como não tem votos e era dirigente menor do PT, tomou um pontapé. Descobriu que os velhos camaradas não são tão camaradas assim. Ele fez o trabalho sujo e não tem espaço para ele.
– Mas o Palocci voltou, o Zé Dirceu também. Por que não ele?
– Ora, doutor, ele foi muito visado pela mídia e nunca foi um graúdo. Esse Palocci do nada virou ministro da Fazenda, nem economista é, mostrando que era de fato um alto dirigente nas sombras. E foi eleito deputado. O Dirceu sempre foi o líder ostensivo da maior patota dentro do PT, não tem como queimar um cara desses. E o Delúbio? Um capiau lá de Goiás que se dispôs a fazer o que fez, na boa fé dos camaradas. Viu que não tem amigos nesse negócio, só interesses. Devia ter se elegido. Perdeu seus cargos no sindicato e no partido e sujou-se junto à opinião pública. Está fora. Só ele não entendeu.
– Por que fizeram isso, Quinho? Malvadeza?
– Não é simples malvadeza, doutor, mas um jeito de proceder desses partidos de esquerda. Usam e abusam de sua militância e nas horas decisivas o sujeito fica desamparado. Fica feito cão sem dono, como na proverbial anedota do cachorro perdido em dia de mudança. Delúbio está assim, perdido, lambendo a mão de um, a de outro e de mais outro e não acha amparo algum. Está rifado.
– Triste, não é, amigo Quinho?
– Doutor, seria triste se se tratasse de uma pessoa boa e séria, mas esse sujeito era pau-mandado dos chefões para fazer todo tipo de mutreta, o verdadeiro homem da mala. A virtude dele era a fidelidade. No meio da esquerda esse espírito perdigueiro abunda. O que não falta é pau mandado. Está rifado porque foi facilmente substituído.
– Mas ele sabe muito, pode entregar todos eles, Quinho.
– Ora, doutor, ele não é besta nem de abrir o bico para ameaçar. Viu o que fizeram a Celso Daniel. Melhor agüentar calado e ir cuidar da família. Esses petistas são como mafiosos, impiedosos. Ele tem juízo. O que Delúbio quer é um carguinho, um poderzinho como teve no passado, que de dinheiro não deve precisar. Mas está sujo junto à opinião pública e tornou-se supérfluo e temerário. Melhor para ele se recolher à vida privada, ganhará mais. O PT não o quer de volta.
– Mas não deixa de ser uma situação triste.
– Nada, doutor, é disputa de lobos para ver quem manda na alcatéia. O fato é que lobo Delúbio não é macho alfa. Simples assim. Foi expulso.
– E o Lula, por que não o ajuda?
– Lula não tem princípios, doutor. Viu que mentiu a vida toda para se eleger e continua mentindo para se manter no poder? Rifou todos que atrapalharam seu caminho, inclusive o Zé “Sai Já Daí” Dirceu. Pode até gostar do camarada, mas nada fará que atrapalhe as eleições.
– Podemos dizer que depois do Delúbio, o fim?
– Para o próprio Delúbio, sim, mas não para a corriola do PT. Estão nadando de braçadas. Quero ver o que vai acontecer. Duvido que o PT entregue o poder facilmente.
– Vamos aguardar, Quinho.
Despedi-me e fui embora. O amigo Quinho realmente sabia das coisas.


Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de Livrarias.

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