A Terra tem forma esférica. Por isto, quando realiza o movimento de rotação, girando em torno de seu próprio eixo, uma parte fica iluminada e a outra, escura. Assim, áreas que estavam recebendo a luz solar vão gradativamente perdendo luminosidade, ou seja, onde é manhã passa a ser tarde, noite, aurora... O leitor, a esta altura, certamente está questionando o porquê de informações tão óbvias. Explico: óbvias, sim, para qualquer criança do Ensino Fundamental, mas nem tanto para aqueles que desafiam a lógica da física celeste e da astronomia.

Parece estar-se ignorando no Brasil, num desrespeito a Galileu, que o nosso planeta tem 360 graus. Cada espaço de 15 graus, correspondente a uma hora, estabelece mudança significativa de exposição à luz solar. É esta relação que determina o horário de cada área do mundo. Visando a consagrar nas normas internacionais o que a natureza universal estabelecera desde o Big Bang, realizou-se em 1884, nos Estados Unidos, uma conferência de astrônomos para a padronização dos horários em todos os pontos do planeta, a partir do referencial do Meridiano de Greenwich. Estabeleceram-se, então, os fusos horários.

Com certeza, pequenas variações artificiais, para se adaptarem alguns horários, são aceitáveis. Porém, num exemplo exacerbado, não se poderia impor a um País, Estado, cidade ou região, a troca do dia pela noite, ou da manhã pela tarde. E nem mesmo a madrugada pela manhã, como se está tentando impor ao Acre e a alguns outros Estados, numa mudança significativa em seu horário. Como uma canetada ou legislada, pode-se mudar a hora, mas jamais o fuso. Não dá para alterar a posição de um meridiano...

Como se sabe, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado acaba de aprovar projeto que prevê a unificação da hora em todo o território nacional, com base no horário de Brasília. Se transformado em lei, o Acre, como os demais Estados afetados, além de não agregar qualquer benefício, deverá sofrer nova série de mudanças nos horários de trabalho, escola, voos, transportes rodoviários e no cotidiano de sua população, incluindo o funcionamento das indústrias, bancos e comércio. A alteração do nosso horário significaria acentuada diferença em relação à sua real situação física quanto à exposição solar. Viveríamos sob um horário antinatural.

Não há qualquer problema quanto à existência de distintos fusos horários num mesmo país. Os Estados Unidos têm forte diferença entre suas regiões, mas isso não os impediu de ser a maior potência política e econômica, com um terço do PIB mundial. É preciso bom senso no ato de legislar, em especial quando estão envolvidas questões tão influentes no dia-a-dia e, no caso do horário, até no metabolismo das pessoas.

Também não se pode afrontar tanto a natureza, a física, a cosmologia e a relação do ser humano com seu hábitat. Se a moda pega, daqui a pouco haverá parlamentar propondo a revogação da Lei da Gravidade... Bom humor à parte, há uma questão muito séria a ser observada: a população acriana, trabalhadora, ordeira e reconhecidamente defensora das boas práticas ecológicas, deveria, no mínimo, ser ouvida quanto à proposta de mudança em sua relação cotidiana com o sol.

Nota do Editor: João Francisco Salomão é o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Acre - FIEAC (salomao@fieac.org.br).