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Medicina e Saúde
10/08/2009 - 09h06
Os juízes da medicina
Paulo S. Zoppi
 

No início da minha carreira, no ano de 1981, uma senhora com mais de 70 anos me procurou com um vidro, desses usados para acondicionar palmitos em suas mãos. Dentro do vidro estava uma de suas mamas muito bem conservada em formol. Ela disse que a peça tinha sido guardada pelo marido desde 1957 e que, com seu falecimento, desejava se livrar do material.

A situação pode causar estranheza para a maior parte das pessoas, mas na condição de médico e pesquisador tomei uma decisão. Redigi um documento, assinado por ela e aceitei ficar com a peça. Antes de enviá-la para incineração, submeti a mama guardada a alguns testes e cheguei à conclusão, depois confirmada por outros colegas anátomo-patologistas, que a retirada da mama, chamada de mastectomia, ocorreu sem necessidade. Aquela senhora nunca teve câncer. Foi um engano, que com certeza, hoje, com o conhecimento que a especialidade acumulou, nem mesmo um residente cometeria. Neste caso o "juiz da medicina" condenou depois de 24 anos uma mama inocente.

Embora essa situação pareça distante, a situação é comum: um indivíduo sente um caroço embaixo do braço. Ao chegar no especialista este pode solicitar uma biópsia. Em tempos de fácil acesso à informação, inclusive médica, o paciente corre para pesquisar o que diagnosticaria tal exame na internet. Vai para o laboratório clínico fazer a extração de uma pequena parte do caroço e espera ansioso pelo resultado.

Então, entra em cena na cadeia de profissionais que trabalham na área da saúde, uma categoria especial de médicos que poucos pacientes conhecem: o anátomo-patologista. Diferente do patologista clínico que realiza exames para identificar e quantificar substâncias, o anátomo-patologista analisa o material extraído do corpo humano que pode ou não estar doente e, dá o diagnóstico da análise. Seu trabalho é praticamente artesanal. Consiste em verificar minuciosamente e com muita técnica ao microscópio, biópsias, ou seja, fragmentos de órgãos ou tecidos retirados durante procedimentos cirúrgicos, ou até mesmo em ambulatórios, como é o caso de fragmentos de pele, nódulos de mamas, pólipos nasais etc. O trabalho envolve desde pequenas amostras coletadas pelo ginecologista para o exame de Papanicolau até grandes peças para investigação de cânceres.

Ao final de cada análise o patologista emite um laudo, conhecido como anatomopatológico, mas não comunica o resultado diretamente ao paciente e sim ao outro médico que solicitou o exame. O laudo permite, na maioria dos casos, um diagnóstico rápido, preciso e seguro para a tomada de decisão. O laudo é um veredicto, uma sentença, no caso da constatação de um câncer em avançado estado. É um alívio quando tem resultado negativo. É por este motivo que o patologista é considerado como o "juiz da medicina". É com base em seu parecer que um ou mais médicos decidem por um determinado tratamento ou pela cirurgia que, em alguns casos, representa a amputação de um órgão ou membro do paciente.

De acordo com relatório do Ministério da Saúde sobre o perfil da mortalidade dos brasileiros, publicado em 2007, as neoplasias malignas (câncer) ocupavam - em 2005 - o segundo lugar entre as causas de mortes no Brasil. No total foram 147.418 mortes em 2005, ou seja, 16,7% dos óbitos totais no país. Esse perfil vem se intensificando rapidamente. Um recente estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostrou que os casos de câncer serão a maior causa de mortalidade no mundo em 2010. De acordo com o relatório, entre os anos de 1975 e 2000 os casos de câncer dobraram. O mesmo poderá acontecer entre 2020 e 2030.

Por todas estas características citadas o médico patologista é chamado de “Juiz da Medicina”. Quanto mais a sociedade conhecer a atuação desse profissional, maior será a segurança que todos terão para realizar procedimentos médicos e realizarem tratamentos eficazes que curem o paciente.


Nota do Editor: Dr. Paulo S. Zoppi é Diretor da Sociedade Brasileira de Patologia – SBP.

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