Mito, segundo o “Aurélio” é: “Narrativa de tempos fabulosos ou heróicos”; que define fábula como: “Narração de coisas imaginárias; ficção [...]”, e herói como: “Homem extraordinário por seus feitos guerreiros, seu valor ou sua magnanimidade”. As noções de heroísmo e valor são relativas. E a definição de magnânimo? Consta ser aquele: “Que tem grandeza de alma; generoso; liberal; bizarro; longânime”. Bizarro? Pois é: bizarro, além de: “Extravagante, esquisito”, também pode significar: “Gentil, nobre, generoso” ou: “Bem-apessoado, bem-parecido; garboso” ou: ”Vestido com elegância; bem vestido” ou, ainda: “Fanfarrão, jactancioso”. Haja ambiguidade! Mas é essa imprecisão que caracteriza a maioria dos mitos. Alguns surgiram para tentar explicar o que a ciência humana ainda não compreendia; outros apareceram com segundas intenções estabeleceram-se como mentiras repetidas cem vezes. Serviram e ainda servem para frear a racionalidade, condicionar. Como reforço, algumas mitologias celebram mártires e heróis. Alguns líderes usam delas para cativar mental e fisicamente seguidores: “exemplos” a serem imitados, ou ícones a serem venerados. Mitos com essas características existem em todas as áreas, e alguns são tão bem idealizados e arraigados que ninguém os questiona. E ai de quem o faz. Não é diferente na política: Basta ter um pouco de poder e interesses para criar um mito, inclusive de si próprio. Freud explica... Alguns até tem algum fundo de verdade. Não é à toa que o “Aurélio” também define mito como: “Representação de fatos ou personagens reais, exagerada pela imaginação popular, pela tradição, etc.”. O “etc.” talvez inclua a intencionalidade pessoal ou institucional que o cria. O dicionário, quando acrescenta que mito também pode ser: “Pessoa ou fato assim considerado ou concebido”, sugere essa visão, que quase sempre corresponde a outra: “Idéia falsa, sem correspondente na realidade”. Assim é que temos vários mitos políticos, alguns ainda vivos e muito “vivos”. Há até os que clamam: “Eu sou fulano!”, como se isso os colocasse acima do bem e do mal, sínteses ideais da democracia, embora sua postura seja ditatorial, egoísta, insensível, gananciosa. Seus erros podem ser patentes, embora nunca os reconheçam; mas recorrem ao “mito” de si próprios para exigirem reconhecimento e tributo eterno por sua “história”. O magnânimo e o megalômano se confundem. Alguns se iludem tanto com o próprio mito, que justificam outra citação do “Aurélio”, que diz ser mito: “Forma de pensamento oposta à do pensamento lógico e científico”, ou seja, crêem estar certos em seus erros. Se isso não for malícia é demência. O pior desse tipo de mito é que ele quer estar sempre lá: desafiando a racionalidade e o tempo; nutrindo-se da ignorância cultivada de muitos ou da conveniência lucrativa de poucos. E mitos nunca param de surgir. A diferença é que alguns mitos antigos mantêm sua força e são objetos de estudos científicos: tem sua utilidade. Há os que serviram para denominar anomalias físicas e mentais, os que ainda inspiram encenações artísticas. Já os mitos autocriados, sobretudo no campo político, e que também são encenações, tendem a envelhecer e enfraquecer junto com seus protagonistas. É quando revelam suas múltiplas fraquezas, seus “pés de barro”, como os do Colosso de Rhodes, ou na lama. O Brasil precisa de trabalho, inteligência, criatividade, integridade e fé, e não de mitos! Nota do Editor: Adilson Luiz Gonçalves é mestre em educação, escritor, engenheiro, professor universitário (UNISANTOS e UNISANTA) e compositor. E-mail: prof_adilson_luiz@yahoo.com.br.
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