Ao mesmo tempo em que taxistas e outros motoristas brasileiros que adotaram o GNV (gás natural veicular) como combustível alternativo diante dos elevados preços da gasolina e do álcool, o Brasil queima na atmosfera todos os dias 8,72 milhões de metros cúbicos do combustível e reinjeta nos poços produtores outros 11,7 milhões de metros cúbicos, porque – acreditem – não tem como transportá-los até o consumidor. E ainda é obrigado, por contrato, a importar da Bolívia mais 21 milhões de metros por dia. O excedente descartado da produção nacional é equivalente à importação e, mesmo assim, o brasileiro paga caro pelo produto. Durante anos, o GNV foi tido como a vedete dos combustíveis, pois é limpo e tinha preços competitivos. Frotistas, taxistas e muitos particulares adaptaram seus veículos para consumi-lo. Mas, em 2006, quando o presidente boliviano, Evo Morales, nacionalizou os “hidrocarbonetos” e contrariou frontalmente os interesses brasileiros, desapropriando a preço vil investimentos da Petrobras naquele país (e o Brasil não reagiu!), o gás encareceu e passou a perder mercado. O fenômeno “flex”, do motor que funciona tanto a álcool quanto à gasolina, passou a ocupar o seu lugar e muitas oficinas de gás fecharam suas portas. A notícia de que o Brasil joga fora uma formidável quantidade dessa energia soa ruim aos ouvidos de todos que suam para pagar o elevado preço dos combustíveis tradicionais. A sociedade, o Congresso Nacional e até mesmo o Ministério Público deveriam cobrar do governo o fim desse “desperdício ideológico”, que favorece a Bolívia e prejudica os brasileiros. Em vez de, por razões político-ideológicas, continuar importando, sem necessidade, o gás boliviano, o Brasil deveria mobilizar-se para dar aproveitamento ao produto que sai de seus próprios poços como subproduto da extração do petróleo. Da mesma forma que se traz o óleo ali produzido, também poderia se transportar o gás e, com isso, garantir preços mais compatíveis ou, pelo menos, o direito dos brasileiros utilizarem essa energia, hoje desperdiçada. Além de abastecer a frota, o gás seria muito útil na indústria e na movimentação de usinas termoelétricas. Talvez pudesse, até, ter preço mais acessível. Contra a oposição dos trustes do petróleo e o sacrifício de patriotas locais, que chegaram até a irem para a cadeia em razão da luta nacionalista, nos anos 50, o Brasil criou a Petrobras. A empresa especializou-se e hoje é uma das grandes do setor em todo o mundo. Mas nem por isso, o cidadão brasileiro foi poupado. A empresa funciona com política internacional de preços e seus benefícios não são sentidos diretamente na bomba de abastecimento. Talvez isso a tenha feito grande. Mas há de chegar uma hora em que a população possa vir a se beneficiar concretamente do seu sacrificado dinheiro investido na criação e manutenção da estatal. Talvez esteja chegando essa hora. Agora que o Brasil já é auto-suficiente na produção de petróleo, tem gás até para queimar na atmosfera, e o álcool é um sucesso mundial, não é demais sonhar com o dia em que possamos ter preços mais “republicanos” para os combustíveis. O presidente Lula bem que poderia investir em infra-estrutura de transporte do gás natural aquele dinheiro que o Brasil, em vez de aplicar em seus próprios problemas internos, tem emprestado (e muitas vezes não recebido) da Bolívia, Paraguai, Equador e de outros vizinhos. Coisa para se pensar com toda seriedade e muita responsabilidade... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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