Em uma reunião recente em que participei, foi levantado por um dos integrantes que nenhuma empresa poderia se comprometer com o desenvolvimento sustentável, e dentro desse conceito, com mecanismos de responsabilidade social empresarial, sob pena de ser chamada de hipócrita. Mesmo relutante, ouvi a justificativa de que, uma política interna de responsabilidade socioambiental, com a difusão de valores instituídos por esse conceito, não poderia refletir a realidade empresarial e muito menos uma postura da sociedade. Visto que ninguém consegue ser integralmente sustentável no mundo fático, onde toda e qualquer atitude isolada poderia ser confundida com o denominado “marketing de fachada”. Tudo isso me remeteu ao paradoxo milenar entre o bem e o mal; uma visão maniqueísta e simplificada de todo o movimento mundial em torno de um grande objetivo: a continuidade da espécie humana. Sustentabilidade é um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana. Propõe-se a ser um meio de configurar a civilização e atividade humanas, de tal forma que a sociedade, os seus membros e as suas economias possam preencher as suas necessidades e expressar o seu maior potencial no presente, e ao mesmo tempo preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais, planejando e agindo de forma a atingir pró-eficiência na manutenção indefinida desses ideais. O conceito de um ser sustentável nada mais é do que a concepção e o comprometimento de cada indivíduo para com suas ações e seus desdobramentos na sociedade e meio ambiente. Abrange vários níveis de concepção, desde a vizinhança local até o planeta por inteiro. O problema é que não existe um imaginário disponível para substituir o que foi criado pela sociedade de consumo por anos a fio. Se de um dia para o outro acabarmos com o consumo, tal como o concebemos hoje, todos – eu, inclusive – teremos o sentimento de estar fora da ordem social posta. Não contamos ainda com uma rede cultural que dê apoio à transição da nossa psique de um outro modelo qualquer. Mas fato é que a miséria global, a crise mundial, os baixíssimos índices de desenvolvimento humano, o efeito estufa, o degelo do ártico, os “black out” nas grandes cidades, fizeram a sociedade refletir sobre seus hábitos e sobre sua postura. Diante dessa nova realidade insofismável, a mudança de atitude começa a ser irretratável. Inconcebível é a postura daqueles que deveriam ser os grandes responsáveis pelo fomento e pelo desenvolvimento dessa nova ordem mundial, ao se omitirem na maioria das vezes, em submissão às exigências e necessidades de um ou de outro, não da coletividade. Dentro dessa ótica, tenho por certo, que o discurso paliativo da “hipocrisia da responsabilidade social” se enfraquecerá, chegando ao seu inexorável ocaso, dando espaço ao tão almejado desenvolvimento sustentável. Nota do Editor: Janaina Nogueira Muller é advogada, formada pela Universidade Metropolitana de Santos, MBA pela Fia/USP - Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo em Gestão Coorporativa e Responsabilidade Social, Gestão de Projetos Sociais e Organizações do Terceiro Setor. Curso na ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas - Sistema de Gestão Ambiental - ISO 14001:2004. Sistema e indicadores dos Relatórios GRI – Global Reporting Initiative - Instituto Ethos de Responsabilidade Social. Especializada e atuante em diversos segmentos das esferas públicas e privadas, com profundo conhecimento em gestão corporativa, Responsabilidade Socioambiental e gestão de Organizações do Terceiro Setor. Atualmente, como Diretora da Setor3 Consultoria, presta serviços especializados a dezenas de Organizações não Governamentais (OSCs) e empresas espalhas pelo Brasil.
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