Com maturidade, o Brasil tem enfrentado os efeitos da crise financeira internacional e desponta como alternativa de negócios para investidores internos e externos, pois manteve desempenho favorável no primeiro semestre do ano, com preservação da solidez de suas instituições financeiras e do mercado consumidor interno. O mercado imobiliário, por sua vez, tem sido parte desse sustentáculo econômico. Afinal, para atender a enorme demanda por habitação, os empresários têm de produzir milhões de novos imóveis. Diferentemente da Espanha - onde a produção imobiliária foi substancialmente superior à demanda da população - e dos Estados Unidos, onde também a concessão de crédito não obedeceu a regramentos corretos, aqui a liberação do financiamento é disciplinada e rígida, além do que o segmento imobiliário gera empregos e renda. Certas de que o público consumidor a ser atendido nos próximos anos é o de baixa renda, as empresas buscam, agora, segurança jurídica. Sabem que, para garantir a solidez dos negócios, precisam trabalhar com produtos adequados e sustentáveis, pois a margem de lucro é muito pequena. É essencial haver leis e normas legislativas claras, que não mudem no meio do caminho, inviabilizando negócios e, pior, minando a credibilidade dos empreendedores. Durante décadas, os empresários atenderam as classes de mais alta renda, como forma de manter seus negócios vivos. Contrariamente ao momento atual, no período de atendimento ao topo da pirâmide, empreendimentos tinham margem de rentabilidade maior, comportando redução de preço para acelerar vendas, se necessário, e até suportando atrasos a se recuperar, sem prejuízo do produto e da atuação da empresa. No atendimento à baixa renda, não há espaço para erros na concepção e na execução de imóveis econômicos e de interesse social. O produto deve ser simplesmente o melhor para atender os consumidores, ao bairro, à cidade. Com margens mais baixas, erros de conceito podem inviabilizar um empreendimento. Ao construir um milhão de novas moradias nos próximos três anos, dentro do programa "Minha Casa, Minha Vida", o empresário do setor tem de estar atento à eficiência e rentabilidade de sua empresa. Mas também deve respeitar o meio ambiente e o patrimônio histórico, com sensatez. Afinal, procurar saídas para a grave crise de sustentabilidade é responsabilidade de todos: governantes, empresários e consumidores. Os recursos naturais estão se esgotando cada vez mais rápido. A sociedade está engajada, tanto nas questões ambientais quanto sociais. Sabe que a necessidade de morar e viver com qualidade de vida é permanente, ao passo que os governos são transitórios. A opinião publica exige soluções, aliando conceitos de segurança e de qualidade de vida com a possibilidade de obter a propriedade cidadã, de oferecer ao povo um "endereço", ao mesmo tempo preservando o mundo para futuras gerações. Isso facilita a adesão do governo e das empresas a programas tópicos, como o "Minha Casa, Minha Vida". Este é apenas o primeiro passo de uma política habitacional perene, de Estado, e não só de um governo. Afinal, é essencial que funcione, independente do governo, para prover oito milhões de moradias com investimentos de R$ 400 bilhões, ou seja, R$ 27 bilhões/ano para solucionar essa deficiência em 15 anos. A solução é de longo prazo e requer perseverança da sociedade. Serão necessários recursos, subsídios, gestão empresarial, tecnologia construtiva de qualidade e, sobretudo, o engajamento de urbanistas conscientes e juristas lúcidos. Institucionalmente, o "Minha Casa, Minha Vida" tem de ser aperfeiçoado, de forma a garantir segurança jurídica, principalmente nos assuntos ligados a questões ambientais e urbanas. As questões institucionais e os aperfeiçoamentos urbanísticos serão indubitavelmente os próximos passos a vencer, se realmente queremos solução permanente para o problema social da falta de moradia digna. Nota do Editor: João Crestana é presidente do Secovi-SP, o Sindicato da Habitação, e da Comissão da Indústria Imobiliária (CII) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
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