Partidos de oposição apresentam ao Senado Federal o necessário projeto de reformulação do Conselho de Ética (aquele que se notabilizou nos últimos dias ao arquivar todas as denúncias contra Sarney). Pela proposta, acreditem, só poderão participar do colegiado os senadores titulares de mandato (os suplentes, não) que tenham fichas limpas. Não podem ter condenação ou processo judicial e nem contas públicas rejeitadas. Ao tomar conhecimento dessas exigências, o senador Garibaldi Alves Filho, (PMDB-RN), pasmo, produziu a pérola da semana, talvez do mês. “Se estão atrás de um santo, não vão achar” - disse.

Lamentavelmente, o experiente Garibaldi deve ter falado com absoluta segurança e conhecimento de causa, pois é senador há seis anos, recentemente presidiu o Senado, e está na vida pública desde 1971, como deputado estadual, prefeito e governador eleito e reeleito de seu Estado. Bom seria se estivesse redondamente enganado e os mandatos eletivos fossem, realmente, exercidos só por verdadeiros santos, comprometidos apenas com o bem-estar do povo e o desenvolvimento do país.

Para o povo seria extremamente positivo que todos os seus representantes fossem dignos. Incapazes de legislar em causa própria, nomear amigos ou parentes para não trabalhar, montar esquema com empreiteiras, meter a mão no dinheiro público, fazer orgia com passagens aéreas pagas pelo erário, manter “caixas dois”, levar dinheiro na cueca, receber o “mensalão”, roubar dinheiro das ambulâncias e de tantas outras safadezas que o jornal, o rádio e a tv noticiam todos os dias.

Senadores, deputados, vereadores, presidente, governadores e prefeitos deveriam, no mínimo, serem indivíduos acima de qualquer suspeita. Tão puros quanto suas próprias mães ou filhos de pouca idade os consideram. Verdadeiros poços de bondade, competência, patriotismo e, principalmente, de honestidade. Mas isso, infelizmente, não passa de um sonho idealizado, como bem atesta o experiente senador potiguar.

Apesar de todo o desgaste e desapontamento que a classe política tem sofrido mercê de seu comportamento inadequado e da democracia e liberdade de imprensa vigente no país, não é exagerado raciocinar com otimismo e chegar à conclusão de que o nosso país tem jeito. São esses mesmos políticos desgastados de hoje que, no passado, produziram a Lei de Responsabilidade Fiscal e outros mecanismos de controle que hoje inibem muitas falcatruas. Também foram eles que, através da Constituição, em vigor desde 1988, ampliaram a ação do Ministério Público que tão bons serviços tem prestado à moralidade nacional. Muita coisa tem mudado, mas é necessário ainda mais...

A sociedade tem de organizar-se para fazer com que as leis sejam cumpridas e as malditas corrupção e impunidade deixem de existir. Bastaria essas providências para expulsar todos os “Judas Escariotis” incrustados nos escaninhos do poder e, a partir de então, podermos até encontrar os “santos” que acreditamos até existir, mas Garibaldi não consegue ver no Congresso, palácios e repartições governamentais...

É difícil, mas não impossível. Basta mudar os hábitos...

Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).