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Crônica do Quinho
Ao me avistar, Quinho abriu seu enorme sorriso. “Há quanto tempo, doutor? Sumiu!” Respondi que andei viajando, merecidas férias. “Viu o Bigode? Não falei que o Bigode é o condestável da República? Enquadrou todo mundo, doutor, pacificou o cenário político sem erguer a voz. Pura autoridade.” – Quinho, eu fiquei surpreso. Achei que iriam “detonar” o Sarney e o Senado inteiro. Estava convicto que os petistas liquidariam o homem. – Ora, doutor, o Bigode sabe de todos os podres de todo mundo, do Lula, da oposição, até da esquerda delirante do PT. Aquele senador que andou falando demais, o que mantinha um amante em emprego fantasma, você viu? O cara gosta de homem, toda a gente sabe, e fica posando de machão. Achou que podia falar o que queria. Enfiou, com a desculpa do trocadilho, o rabo entre as pernas. Ninguém tem moral para falar mal do Doutor Sarney. Fizeram o acordo na hora. Viu o coronel cearense, o Jereissati, pedindo desculpas? Teve que pedir, senão o pau iria trincar. – E o Mercadante, Quinho? – Doutor, esse está com a vida política ameaçada, não se reelege senador, que o eleitorado de São Paulo foi para a oposição ao PT. Figurinha medíocre. A classe média paulistana detesta o PT. Ele tinha que fazer o que o chefe Lula mandou e ficou desmoralizado. Revogou até o irrevogável. Quando Sarney teve a conversinha de pé de ouvido com Lula e este percebeu que o Bigode iria para a arena com tudo, não teve jeito. A malta do PT se rendeu na hora. Até aquela senadora horrenda por Santa Catarina ficou mansinha, até ficou mais bonita, falou rindo. Todo mundo virou sarneysista desde criancinha. Se o Bigode abre a boca abala a República. Ninguém tem moral para passar descompostura nele. – Viu o Collor? – Doutor, o Presidente Collor foi brilhante, um valente. Sabe, na vida política o inesperado às vezes é mais potente que o planejado. Aquele senador covardão, o Simon, foi cutucar a onça com vara curta e deu-se mal. Não apenas engoliu o que disse, como também deu uma demonstração pública de pusilanimidade, como raras vezes pode ser visto. A intervenção do Presidente Collor mobilizou os senadores para a preservação das instituições da democracia representativa. O Presidente Collor cumpriu um papel saliente. Sem aquela intervenção cirúrgica os petistas iriam manter a campanha de difamação midiática contra o Senado e o Doutor Sarney por mais tempo. Aquele foi um momento decisivo. – É, Quinho, tenho que concordar com você. Esses esquerdistas não têm porque falar mal do Sarney. Fazem muito pior que ele. Roubam, mentem e ainda querem a revolução. – Sim, fazem tudo isso mesmo. Viu o caso do Francenildo, o caseiro? Nojento, doutor. O Gilmar Mendes, presidente do STF, abafou tudo, sujou seu nome também. Doutor Sarney não é santo, mas nunca faria um negócio tão baixo desse, com uma figura tão indefesa. O Palocci fez e merecia ser castigado. Crime sobre crime e até o Judiciário saiu cúmplice dessa hediondez. Como falar mal do Sarney? – É, amigo Quinho, nada a fazer. Ruim com Sarney, pior sem ele. – É o que sempre digo, falou Quinho. Lembra do sambinha do Benito Di Paula, doutor? “Tudo está no seu lugar, graças a Deus, não podemos esquecer de dizer Graças a Deus”. Um abraço, doutor, falou despedindo-se. Foi-se cantarolando a velha canção. Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de Livrarias.
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