Quem segue meu trabalho sabe que gosto de usar humor para tratar de coisas sérias. Cinco anos atrás decidi optar pela velha arma da paródia, da animação, da música e das imagens para distribuir algumas críticas pela internet. Nada que gerasse grandes mudanças, mas pequenas alfinetadas que devem doer muito em quem veste a carapuça. Foi assim que nasceu a série de Melôs: a Melô do Pocotó, a Melô do Congresso, a Melô da Eleição, a Melô do Mensalão e o O Funk dos Burrão. São pequenos vídeos que você encontra em meu site para assistir, baixar e distribuir: www.lucianopires.com.br/video. Pois bem, o processo de produção dessas melôs só tem uma regra: inspiração. Quando a reflexão sobre um tema chega ao ponto, a música e o começo da letra surgem como que por milagre em minha mente. Aí é pesquisar, burilar, escrever e reescrever. Depois aciono uma excepcional rede de colaboradores para produzir a parte musical, a coreografia e animação dos bonecos, a filmagem e edição. E sempre acontece uma coisa fantástica: todos se divertem. Muito. Já disseram que isso é coisa de brasileiro, um povo com capacidade infinita de rir de suas mazelas. Pois acho que isso é positivo. Só falta – depois de rir – tomar alguma providência, não é? Pois então. Ficou pronta uma nova melô. A Melô do Sarney, claro. Esse é o grande tema que domina o terceiro trimestre deste ano, revelando ao Brasil a infinita capacidade que o poder tem de atrair. Inebriar. Cegar. Corromper. Mas não quero ser mais um a discutir esse tema. Prefiro recorrer a Willian Shakespeare que demonstrou sua genialidade ao esgotar o assunto numa frase: “A política está acima da consciência.” Minha contribuição à discussão está abaixo. A melodia é de “Bastidores” de Chico Buarque. A esculhambação da letra é minha. Arranjos e interpretação de Sérgio Sá. Coreografia e manipulação dos bonecos pela Cia Truks. E produção de vídeo pela Casa de Vídeo, com sonoplastia de Lalá Moreira. Mostrei para um amigo bem mais velho e conservador que disse: “isso é molecagem”. Foi quando tive certeza de que a Melô estava pronta. Com vocês, a Melô do Sarney Melo do Sarney Chorei, chorei Até ficar com dó de mim E me tranquei no camarim Tomei o calmante, o excitante E um bocado de gim Amaldiçoei O dia em que te conheci Ocê chegô do Maranhão Com um bigodão O jaquetão, os filhão, o mãozão Sarney, Sarney Porque é que ocê faz assim? Foi censurar o Estadão E botou o suplente A caçoar de mim Nem vou piscar Na hora que eu for votar Votar pra me certificar Que ocê nunca mais vai voltar, Vai voltar, vai voltar Sarney, Sarney Até o Collor disse sim E o dedo sujo do Renan Tremo de pensar Que vai encostar em mim Lá no Amapá Tem gente que não qué ocê lá Também não qué no Maranhão Nem no Piauí, Ceará, Tocantins, ou Pará Sarney, Sarney Tem pena do meu dinheirim Só sei que todos os mané Vão aplaudir de pé Quando chegar o fim Sarney, Sarney Se ocê ficar, tem dó de mim Nota do Editor: Luciano Pires (www.lucianopires.com.br) é jornalista, escritor, conferencista e cartunista. Faça parte do Movimento pela Despocotização do Brasil.
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