Será sempre fácil, numa sala de aula, gostar da criança nutrida. Ter carinho, desvelo e admiração pela menina sabida, pelo garoto asseado. Na verdade, o aluno que aprende sem voz, quase sem vez. Ou aquele que não precisa mesmo de alguém que desate os seus nós. É muito cômodo ater-se ao dito aluno padrão. Apraz, de fato, educar quem no fundo já chega educado, na escola. Qualquer um pode oferecer amor ao que já é amado. Ninguém se desdobra, socorrendo o salvo, nem sendo a mãe, quiçá o pai, daquela criança que já os tem a contento. Nenhum desafio existe no quase perfeito. No ato leve (ou leviano) de achar algo meio feito para somente meio fazer. As pessoas têm mesmo prazer no que já é o prazer propriamente. Assim, educar se torna um passatempo, não exatamente uma missão, ou um ofício. Sabe-se que todos querem ser mestres das turmas bem dotadas. Aquelas cujos alunos são selecionados de alguma forma, ainda que natural. Todos querem ser médicos de pessoas devidamente sãs. Em suma, todos querem trabalhos que não dêem trabalho. Nota do Editor: Demétrio Sena é educador lotado no CIEP 327 - Suruí - Magé - RJ. Palestrante. Membro da Academia Mageense de Letras.
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