Viajar pelo mundo! Esse é um sonho acalentado por muitos. De fato, seria maravilhoso conhecer países e costumes diferentes; aprender a lidar com a diversidade humana e, principalmente, trazer dentro de si mais do que simples imagens de cartão-postal e memórias de odores e sabores. Infelizmente, existem pessoas que aviltam tal oportunidade apenas para alardearem que, por moda, competição social ou simples ostentação, “estiveram lá”. Normalmente, são investidores mesquinhos, ditadores implacáveis, corruptos enrustidos ou descarados e “playboys”, que conhecem os locais mais charmosos do mundo, sem que isso os torne seres humanos decentes. Pelo contrário, tornam-se cada vez mais arrogantes e preconceituosos, contribuindo com isso para o distanciamento entre os povos. O que deveria ser instrumento de congraçamento fica limitado a uma mera competição de egocêntricos de um círculo fechado, elitista e conservador, cujos membros cultivam e defendem tradições das quais são os únicos beneficiários. Assim, viajam porque basta ter dinheiro para fazê-lo, não importa sua origem. Ignoram, no entanto, que para ser um cidadão do mundo é preciso muito mais do que milhagem e poder aquisitivo: é necessário viver essa condição em qualquer país do mundo, inclusive no próprio! Talvez essa seja a maior diferença entre o cosmopolita e o “viajado”, pois, enquanto o primeiro observa, analisa, assimila o que considera positivo e evolui, moral e espiritualmente, com as experiências que vivencia; o segundo apenas ostenta e alardeia seus roteiros de viajem, em busca de orgasmos sociais. O cosmopolita incorpora valores; argumenta de forma contextualizada e pertinente. O “viajado” prefere causar inveja, vangloriando-se em rodas sociais fúteis; ou transformar seu egoísmo e excentricidade em “experiência de vida”, comentada mesmo onde não cabe. É interessante notar, no entanto, que é possível encontrar pessoas cosmopolitas que nunca saíram de suas cidades: gente humilde, sim, mas interessada e adepta do diálogo; compreensiva com o diverso; preparada para enfrentar e contornar o adverso. Diante desses seres humanos os “viajados” se surpreendem. Alguns ficam inconformados quando descobrem que outros conhecem, por curiosidade, o que eles precisaram visitar para saberem que existe. “Mas você não esteve lá!”, quase protestam. Parece que não concebem que poder aquisitivo nunca foi sinônimo de sabedoria, civilidade ou idoneidade; que a distância física não é obstáculo para mentes abertas; e que como passaportes repletos de vistos não são antídotos para a estupidez crônica, adquirida ou “de berço”. Seria muito bom se cada um tivesse oportunidade de conhecer outros países e, com isso, voltar espiritualmente evoluído, não pela submissão a algum “guru” da moda, como fazem alguns milionários alienados, em “crise existencial”; mas pela interação com outras culturas. O ideal seria que não nos sentíssemos diferentes ou superiores aos outros, de fora ou de dentro, com isso; mas descobríssemos o que temos em comum: aprender e ensinar em igual medida, para que a humanidade evolua. Seria maravilhoso, não? Mas enquanto o principal item de viagem for vaidade esnobe, as únicas coisas que os “viajados” continuarão a trazer de volta serão arrogância e bagagem, ambas em excesso! Nota do Editor: Adilson Luiz Gonçalves é mestre em educação, escritor, engenheiro, professor universitário (UNISANTOS e UNISANTA) e compositor. E-mail: prof_adilson_luiz@yahoo.com.br.
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