A história do México apresenta certas semelhanças interessantes com a do Brasil. Como sabemos, no passado, o capitão Virgulino Ferreira, vulgo Lampião, aterrorizou o Nordeste. Com seu bando de cangaceiros, atacava e saqueava cidades do interior e matava muita gente. No México, Pancho Villa fazia a mesma coisa, mas as esquerdas delirantes mexicanas e internacionais o transformaram em “herói revolucionário”. Diferentemente de Lampião - a quem nunca se atribuiu nenhum projeto político e quem nunca chegou a invadir nenhuma capital nordestina - Pancho Villa, vindo do norte do país e Zapata, vindo do sul, invadiram a Cidade do México. Uma vez tomada a capital do país, os dois líderes “revolucionários” fizeram uma festança com conjuntos de Mariachis tocando a todo vapor, muitas danças, muita tequila com sal e limão etc. Quando estavam bem mamados, deixaram a capital e foram um para o norte e o outro para o sul. Resultado: as tropas de Carranza retomaram a capital e tudo voltou como dantes no quartel de Abrantes. Isso é que revolução, o resto é brincadeira! Lampião, por sua vez, nunca tomou capital nenhuma de nenhuma cidade do Nordeste: limitava-se a escaramuças em que pilhava cidades interioranas, matava os “macacos” e fugia para a caatinga, onde as “volantes” nunca o encontravam. Um dia, porém, seu bando foi apanhado de surpresa e Lampião, como bom capitão, morreu de espada na mão. Era um rebelde sem causa. No Brasil, Deodoro da Fonseca deu o primeiro golpe militar da história e proclamou a República. Mas não se pense que ela veio imediatamente com a democracia, pois o pai inspirador da República dos Mazombos era Auguste Comte e este francês doente era a favor da “ditadura republicana” – regime este até hoje adotado em países como o Haiti. Como costumo dizer: Há sempre um francês por trás de uma idéia torta, quando não é Robespierre – o Rousseau com a guilhotina – é Napoleão, abominável tirano corso-francês, quando não é este, é Auguste Comte, o pai do positivismo, religião sem Deus dos republicanos brasileiros. E assim sendo, o ditador Deodoro foi mais tarde sucedido por Floriano Peixoto, “o marechal de ferro”, que não era nenhuma flor que se cheirasse: a Ilha do Desterro, posteriormente chamada Florianópolis, cidade de Floriano, que o diga! Cá entre nós, Floripa é muito mais simpático. A muito custo, a “República Velha” – ou a Bruzundanga impiedosamente esculhambada pela pena de Lima Barreto – chegou a uma democracia, ao menos de fachada, pois os currais eleitorais é que elegiam presidentes. No México, após algumas ditaduras republicanas como as de Carranza, Porfírio Diaz – aquele que costumava dizer: “Pobre México, tão longe de Deus, tão perto dos Estados Unidos” - chegou também a uma democracia para inglês ver. Neste ponto, há uma importante diferença entre ambos os países. No Brasil, nasceram e morreram muitos partidos políticos, mas nenhum conseguiu ter continuidade no Poder, ao passo que no México, não importando a quantidade de partidos, um deles permaneceu no Poder por cerca de 70 anos! O PRI (Partido Revolucionário Institucional) – uma evidência que na América Latina nunca se deu a menor importância para o vetusto Princípio de Não-Contradição de Aristóteles! Embora o referido nome fosse uma contradictio in adjectio, o partido ficou tanto tempo ou mais no Poder do que o PCUS (Partido Comunista da União Soviética), sendo que este era um “partido único” (outra incongruência!), mas aquele aceitava vários concorrentes, derrotando-os fragorosamente sempre nas urnas. Como se explica essa fantástica proeza? É bastante simples: uma corrupção eleitoral avassaladora, perto da qual a da Velha República não passava de coisa de amadores! Finalmente, na década de 90, o PRI perdeu as eleições em quase todas as mais importantes províncias e foi eleito o Presidente Vicente Fox. O México tomou novo rumo: entrou para a NAFTA (North American Free Trade Alliance), juntamente com os Estados Unidos e o Canadá e, graças à “exploração imperialista” americana, seu PIB ultrapassou o do Brasil, tornando-se o maior da América Latina. Durante o primeiro governo Lulla, o Brasil recusou a proposta de entrar para a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) e endossou a da criação do MERCOSUL, um pseudomercado livre e autêntico “mercado político” – a expressão é de James Buchanan, Prêmio Nobel de Economia. Mais do que isso: os Estados Unidos deixou de ser o maior parceiro comercial do Brasil e este não passou a ser o Mercado Comum Europeu, mas sim a China, para a qual 60% das exportações brasileiras não são de produtos industrializados, mas sim de matérias primas como o ferro. Na década de 50 do século passado, nossas esquerdas delirantes viviam dizendo que o Brasil fazia o jogo do imperialismo americano: exportava matérias primas para os Estados Unidos e importava produtos industrializados dos Estados Unidos, alguns dos quais feitos com as próprias matérias primas brasileiras. E agora devemos concluir que o Brasil faz o jogo do imperialismo chinês?! De qualquer modo a eleição de 2010 será decisiva, pois poderá haver uma alternância do Poder com o PSDB retomando as rédeas do país – coisa que tem ao menos um aspecto positivo: o afastamento de Lulla e do PT (Perda Total) – ou a companheira Estella do Var-Palmares assumirá o Poder, dando continuidade ao petismo, que corre o sério risco de se transformar no priismo, sem que seja necessário recorrer à corrupção eleitoral: basta a beocidade eleitoral de milhões de eleitores. Parafraseando Porfírio Diaz: “Pobre Brasil, tão longe da racionalidade, tão perto do Paraguai!” Nota do Editor: Mario Guerreiro (xerxes39@gmail.com) é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).
|