Crônica do Quinho
Lá estava Quinho sentado no chão, encostado à parede do Baú do seu Pedro, do lado externo, na Alameda Santos. Rabiscava um caderno. – Bom dia, amigo Quinho? Cumprimentei-o, sorridente. – Bom dia, doutor. Sumido! – É, Quinho, a vida prática nos devora, sobretudo o nosso tempo. Temos que fazer coisas como escravos fazem as suas. Que cara é essa? – Desanimado, doutor. Desanimado. Nem ler jornais eu consigo mais fazer com prazer. Viu o besta do Lula? Apoiando aquele cara do chapéu branco, em Honduras. Como pode? Quer dizer, pode, é tudo comunista ajudando comunista. Mas isso não está certo. Lula mudou o eixo histórico da política externa brasileira. O Brasil deixou de ser neutro. É agora um imperialista como os outros. – Você viu a capa da revista Veja? Diz bem isso. – Vi, sim. O desenhista foi brilhante. Um filhote de águia imperialista nasceu. Comunista é assim, mesmo os tupiniquins. Têm a fome maior do que a barriga, querem dominar o mundo. Esse é o caminho da perdição, da guerra. – Mas Quinho, deixe isso de lado. Não paga o preço de você perder o humor. – Doutor, não é só isso. Viu que o Lula vai mesmo receber por aqui o nazista que governa o Irã? Tem cabimento? Esses petistas estão brincando com fogo. Uma afronta aos judeus que residem aqui. Uma traição aos brasileiros. Um flerte com o totalitarismo islâmico. Não é boa coisa. – É, Quinho, está errado mesmo. Mas Lula é o poder constituído e não liga para o que o povo pensa. Esqueça isso, nada muda para você. Percebo que está triste. Está deprimido? – Estou, doutor, pensando na vida. Até escrevi uns versos, para distrair. – Posso ver? Quinho me passou o caderno. Li: O que sou Hoje estou como aquela gota de chuva que não entrou no rio e perdeu o curso. Sou a gota de sangue que correu da ferida aberta e perdeu o curso. Sou a água derramada na terra imunda. – Nossa, amigo Quinho, que triste! Precisa levantar a moral. Bola para frente. – Doutor, estou como na canção do Chico: “Tem dias que a gente se sente / como que partiu ou morreu”. – Amigão, vamos tomar um café. Quem sabe melhora a sua tristeza. Vamos lá. Saímos os dois em busca de um bom café. Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de Livrarias.
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