Esta história é baseada em fatos reais. Amanheceu o dia. Sai para fora e encarei cara a cara a paisagem à minha frente. Retornei de novo e compareci pessoalmente até a sala de jantar. Vi com meus próprios olhos uma laranja dividida em duas partes iguais que minha avó havia deixado sobre a mesa. Enquanto comia a laranja, minha avó compareceu pessoalmente e, com um sorriso nos lábios, me trouxe uma deliciosa canja de galinha. Eu e minha avó nos amávamos, havia um elo de ligação muito forte entre nós. Mas, o barulho de uma goteira no teto me incomodava. Um barulho desses deixa qualquer pessoa humana demente mental. Já no meu limite extremo, gritei alto para abafar aquele som enlouquecedor, mas não adiantou. Felizmente, uma surpresa inesperada: uma multidão de pessoas se dirigia até à praça principal. Todos estavam ansiosos pela chegada de Pancrácio Lemos, ilustre almirante da Marinha, encarregado da abertura inaugural do porto de Itaipó. Para lá também se dirigiam o prefeito e os vereadores da cidade. Todos já se conheciam, pois conviviam juntos há muito tempo. Havia no ar uma certeza absoluta. Com a abertura do porto, todos os países do mundo doravante poderiam atracar seus navios em Itaipó. O prefeito se dirigiu ao palanque da praça e seu auxiliar veio em seu auxílio lhe entregar a versão final definitiva do discurso. A banda repetiu de novo o hino nacional. Não havendo outra alternativa, o prefeito iniciou seu discurso enaltecendo os planos políticos de seu partido. Desde há muito tempo atrás era seu sonho inaugurar o porto de Itaipó. Havia vivido a vida para alcançar esse dia. A cidade estava exultante. Todos lá estavam. Não fora difícil ganhar grátis um ingresso nas arquibancadas. Na opinião individual de cada um, não havia porto mais bonito no mundo. Se naquela hora fosse realizado um plebiscito popular, o prefeito seria aclamado rei em Itaipó. Todos, sem exceção, unanimemente bateram palmas ao final do discurso. Os itaipoenses estavam felizes, orgulhos porque nossa cidade detém agora o monopólio exclusivo do conhecimento necessário à construção de portos. É bem verdade que a inauguração se deu antes do acabamento final de alguns armazéns do porto. Mas, quem iria prestar atenção nesses detalhes? A lamentar apenas a súbita morte de Maria Antônia, viúva do falecido delegado da cidade, vitimada por hemorragia de sangue incontrolável. No jantar de noite na Câmara de Vereadores estiveram presentes o bispo e o prefeito da cidade de Pracutuba. E todos saíram para fora de suas casas para comemorar aquele grande acontecimento.
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