A empolgação dos brasileiros em relação à Olimpíada de 2016 é parcialmente justificável, mas levanta algumas interessantes questões. A meta do COI deveria ser achar um país para fazer os jogos, e não usar os jogos para fazer um país. Há algo estranho no ar quando se necessita de um evento desses para investir em infra-estrutura básica. Ora, se é realmente desejável realizar tais investimentos, por que seria preciso sediar os jogos olímpicos para tanto? Não faria sentido simplesmente realizar os investimentos, independente dos jogos? O histórico das Olimpíadas, no que diz respeito ao seu legado para a cidade em que foi sediada, é inconclusivo. Atenas não apresentou grandes melhoras, e muitos repetem o caso de Barcelona como grande ícone de mudanças radicais por causa dos jogos. Mas seria o caso de perguntar: foram mesmo os jogos olímpicos que transformaram tanto assim Barcelona? Alguns juram que sim, mas tenho minhas dúvidas. Madri é tão pior assim que Barcelona? Devemos tomar cuidado com a falácia post hoc ergo propter hoc, ou seja, a confusão entre correlação e causalidade. Não é porque uma coisa ocorreu em seguida à outra, que aquela teve de ser causada por esta. A Espanha como um todo melhorou muito na década de 1990, com reformas liberalizantes e abertura comercial. O crescimento foi expressivo a partir de 1996. Alguém diria que isso tudo foi graças aos jogos de 1992? Além disso, devemos manter sempre uma forte suspeita em relação à corrupção possível pela realização de um evento desta magnitude. Os jogos pan-americanos de 2007 deixaram verdadeiros “elefantes brancos” na cidade carioca, e com certeza alguns bolsos bem cheios. A aprovação da candidatura de Chicago é baixa entre os próprios habitantes da cidade justamente por conta deste receio. Os recursos para os investimentos necessários não caem do céu; eles são retirados do próprio povo. Será que não haveria alternativas atraentes para uso desse dinheiro? Sempre que o governo aumenta seus gastos, isso significa redução nos gastos ou investimentos privados, que por lógica econômica, são sempre mais eficientes. Por fim, gostaria de alertar sobre o antigo uso político dos esportes, que desde o Coliseu romano têm servido para distrair o povo e afastá-lo das questões políticas. Nada como a realização de uma Olimpíada em casa para manter o povo ocupado por bastante tempo, sem foco nos escândalos de corrupção do governo. Esse é o verdadeiro jogo político. Nota do Editor: Rodrigo Constantino é economista formado pela PUC-RJ, com MBA de Finanças no IBMEC, trabalha no mercado financeiro desde 1997, como analista de empresas e depois administrador de portfólio. Autor de dois livros: Prisioneiros da Liberdade, e Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT, pela editora Soler. Está lançando o terceiro livro sobre as idéias de Ayn Rand, pela Documenta Histórica Editora. Membro fundador do Instituto Millenium. Articulista nos sites Diego Casagrande e Ratio pro Libertas, assim como para os Institutos Millenium e Liberal. Escreve para a Revista Voto-RS também. Possui um blog (rodrigoconstantino.blogspot.com) para a divulgação de seus artigos.
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