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Opinião
24/10/2009 - 05h54
O antipolítico
Klauber Cristofen Pires - Parlata
 

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

A citação acima reproduzida, do marxista Bertold Brecht, é a bandeira que tantos políticos e intelectuais orgânicos têm empunhado no Brasil das últimas décadas, para incentivar o povo à participação em movimentos reivindicacionistas. Como o antônimo à ignorância política, pretende o dramaturgo alemão conclamar o povo àquilo que eu generosamente aqui denominarei de "consciência política". A "consciência política", consiste, portanto, em participação política, ou, em outros termos, a fazer com que o povo decida sobre todos os aspectos da vida por meios políticos, notadamente àqueles diretos, como o plebiscito e o referendo. É assim que Brecht entende que aparecerá o feijão à mesa, que a menina furtar-se-á ao destino da prostituição e o que o pior de todos os bandidos, o político, regenerar-se-á, porque deixará de ser vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Longe de mim contestar o caráter de verdade contido nesta máxima. Todavia, se há algo que sempre e sempre merece desconfiança, é o que sai da boca de um comunista. Pra começar, é também de Brecht a máxima "primeiro vem o estômago, depois a moral", o que já nos põe em dúvida sobre o critério que ele utilize para classificar um político qualquer como vigarista ou pilantra. Porém, se eu apóio o teor de verdade do trecho em comento, o mesmo não digo quanto à postura de quem eu considero como sendo um sujeito politicamente consciente, e aqui socorro-me de Hans-Hermann Hoppe (Uma Teoria sobre o Socialismo e o Capitalismo, p. 37) para explicar aonde quero chegar:

A e B podem ter a mesma renda e ambos podem ser igualmente ricos, mas A pode ser negro, ou mulher, ou ter uma má visão, ou ser residente no Texas, ou ter dez filhos, ou não ter marido, ou ser maior de 65, enquanto B pode ser nada disso, mas alguma outra coisa, e então A pode argumentar que suas oportunidades de alcançar qualquer coisa na vida são diferentes, ou ainda mais, piores, que as de B, e que ele deveria de alguma forma ser compensado por isto, resultando que sua renda monetária, que antes era a mesma, agora seja diferente. B, por sua vez, poderia argumentar exatamente da mesma forma ao simplesmente reverter a [p.58] implícita avaliação de oportunidades. Como conseqüência, terá lugar um grau jamais visto de politização. Qualquer coisa parece propícia agora, e tanto produtores quanto não-produtores, os primeiros por motivos defensivos e os segundos por propósitos agressivos, serão orientados a gastar mais e mais tempo no papel de levantar, destruir e contestar demandas distributivas. Por conseguinte, certamente, esta atividade, assim como o engajamento em atividades recreativas, é não apenas completamente não-produtiva como também contrasta com o fim de gozar o laser, implicando o gasto de mais tempo para o único propósito de interromper o gozo sossegado da riqueza produzida, assim como sua nova produção.

O trecho acima, do "nosso alemão" ("os nossos alemães são melhores do que os deles", hehe), trata do socialismo do estilo social-democrata, aquele para o qual parece querer convergir a proposta de Brecht. Em um socialismo do tipo russo-soviético, Hoppe nos ensina que a atitude normal dos indivíduos é a do afastamento da política, desde que todas as instâncias da vida já estão determinadas pelos agentes dirigentes.

Segundo Hoppe, ainda:

“Sob uma democracia de produção assume-se que cada um tem o direito de ter algo a dizer sobre as coisas que ele não as adquiriu; portanto, convidam-se permanentemente as pessoas, por meio disto, a não apenas criar a instabilidade legal com todos os seus efeitos negativos na formação de capital, mas acima de tudo a agir de forma imoral".

O que eu tenho sobre a política é que esta é a arte de enganar e roubar, a qual segue uma escala que começa por um que engana e rouba todos (o despotismo) até aquela em que todos enganam e roubam um (a democracia). Uma consciência política, portanto, é uma consciência contra a política e o uso da política, para que os políticos não roubem o feijão de nossa mesa, não transformem nossas filhas em prostitutas e que os piores bandidos de todos, eles mesmos, os políticos, que Brecht aponta de forma pleonástica como vigaristas, sejam poucos ou, quiçá, um dia, nenhum.

Ludwig von Mises afirmava: "Príncipes, governantes e generais nunca são liberais espontaneamente. Tornam-se liberais quando forçados pelos cidadãos." (Ação Humana, p.448). Eis aí, portanto, a forma da consciência política negativa, ou, permita-se-me inaugurar o termo, a antipolítica.

E novamente, Hoppe nos dá uma sugestão de como começar a participar deste processo (Uma Teoria Sobre o Socialismo e o Capitalismo, p. 100 e 101.):

Para que o estado falhe em alcançar seu objetivo, não mais nem menos que uma mudança na opinião pública geral deve ter lugar: a ação de apoio ao estado deve vir a ser considerada e rotulada como imoral porque seu apoio é dado a uma organização de crime institucionalizado. O Socialismo estaria no seu fim se as pessoas apenas parassem de se deixarem corromper pelo suborno estatal, mas iriam, se oferecido, tomar sua parte na riqueza como forma de reduzir o poder de suborno estatal, enquanto continua a tê-lo e tratá-lo como um agressor a ser resistido, ignorado e ridicularizado, a qualquer tempo e em qualquer lugar.

(...)

Para trazermos o estatismo e o socialismo ao fim, nem mais nem menos deve ser feito que uma mudança na opinião pública que iria levar as pessoas a não mais usarem as saídas institucionais para participação política de desejo de poder, mas, ao contrário fazê-las suprimir qualquer desejo dessa natureza e tornar esta própria arma organizacional do estado contra ele e empurrá-lo incondicionalmente a um fim à tributação e regulação dos proprietários naturais onde e quando haja uma chance de influenciar a política.

Isto, caros leitores, somente pode ser conseguido mediante a incorporação de um senso de militância, onde cada pessoa deve agir como a protagonista, divulgando às outras os conceitos de uma sociedade livre e estimulando-as a se unirem em torno da diminuição dos impostos, da máquina pública e das leis que limitem as liberdades individuais.

Certa vez, presenciei uma cena que me marcou: era a de um destes políticos querendo angariar votos em uma feira, ao que o feirante respondeu: suma daqui, você já começou por estragar o meu dia! Eis aí um exemplo de como as pessoas simples, honestas e trabalhadoras sabem sobre o que pensam. Somente basta a todos nós universalizarmos este princípio.

Basta de esperarmos por políticos que prometam estas coisas. Elejamos os antipolíticos. Elejamos nós mesmos!


Nota do Editor: Klauber Cristofen Pires (libertatum.blogspot.com) é bacharel em Ciências Náuticas no Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar, em Belém, PA. Técnico da Receita Federal com cursos na área de planejamento, gestão pública e de licitações e contratos administrativos. Dedicado ao estudo autodidata da doutrina do liberalismo, especialmente o liberalismo austríaco. Possui artigos publicados no Mídia Sem Máscara, Diego Casagrande, Domínio Feminino, O Estatual e Instituto Liberdade. Em 2006, foi condecorado como "Colaborador Emérito do Exército", pelo Comando Militar da Amazônia.

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