Existe uma frase famosa atribuída a general Flores da Cunha, que respondendo à pergunta de um repórter sobre sua destacada atuação como advogado e rico fazendeiro chegara ao final de sua vida pobre, respondeu em uma única declaração: - Cavalos lerdos e mulheres ligeiras! José Antônio Flores da Cunha nasceu em Santana do Livramento (RS), formou-se em Direito, foi delegado de polícia no Rio de Janeiro, deputado estadual, deputado federal, senador, prefeito da cidade de Uruguaiana (RS) e governador do estado. O título de general é oriundo do campo de batalha, pelas bravuras nas revoluções que lutou como chefe militar legalista na revolução de trinta, que conflagrou o Rio Grande do Sul, opondo-se aos partidários do governador Borges de Medeiros. Como governador impulsionou o Estado do Rio Grande do Sul criando as secretarias da Educação, Saúde e Agricultura, o Instituto de Previdência, a Universidade do Rio Grande do Sul e a Frota Rio-Grandense, com navios mercantes para exportar a carne gaúcha. Expandiu as linhas férreas e rodovias e ampliou o ensino público. Mas como nem só de pão vive o homem, o grande general Flores da Cunha era dado aos jogos especialmente as cartas, roleta e o turfe que segundo a história foi o motivo de sua ruína além das lindas mulheres que amou atrizes, cantoras e prostitutas a que atribuiu à ligeireza em seus atributos femininos. E no meio dessa confusão ele partiu deixando um grande legado, mas infelizmente pouco lembrado. “Como os potros vou virar minha cabeça, para os pagos no momento de morrer. E nos olhos vou levar o encantamento, desta terra que eu amei com devoção”. Como na música Canto Alegretense no final da tarde de 04 de novembro de 1959, faleceu o velho general no Hospital Beneficência Portuguesa, em Porto Alegre, por insuficiência renal. Em maio do mesmo ano tinha recebido a homenagem do Exército Brasileiro, que no final do improviso declarou: “Chego ao fim da jornada com a cabeça inclinada sobre o coração desfalecente e enfraquecido, e com as narinas dilatadas ao aspirar o perfume sutil da saudade, que embalsama os últimos dias da minha vida”. No sentido de resgatar o que fora esquecido pela vida moderna, em boa hora surgiu a biografia de José Antônio Flores da Cunha, pois cada vez mais as pessoas vão ocupando seu dia com tarefas e afazeres e esquecem que existiu uma história de sua terra e sua gente. Como bem destacado no prefácio da obra Flores da Cunha de Corpo Inteiro, pelo jornalista Flávio Tavares, “Nosso grande defeito como povo e nação é o desdém pelo passado. Ao ignorar o que fomos ontem, multiplicamos nossas mazelas na política e na vida social, pois só o passado nos faz entender o presente e preparar o futuro”. No mesmo sentido é a posição do jornalista e escritor Lauro Schirmer, que pesquisou por dois anos e buscou resgatar vida do último caudilho, inquestionável o maior governador do Estado do Rio Grande do Sul, um visionário para o seu tempo e de vaga lembrança por sua gente. Com certeza o leitor que tiver contato com a biografia verossímil de Flores da Cunha terá um alimento para alma e conhecerá um gaúcho brasileiro extrovertido, franco e corajoso. Nota do Editor: Ronaldo José Sindermann (sindermann@terra.com.br) é advogado em Porto Alegre, RS.
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