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Bem sei que não se deve começar um texto pelo final. Ou pelo menos não pelo ponto final. Se acabou, simplesmente acabou. Talvez essa seja a maior verdade sobre o fim do mundo. Um simples ponto final. Então mais nada existe.

Mas não foi exatamente o que aconteceu. Não lembro bem qual era o horário. Foi depois da última mensagem que enviei para ela. A bateria do celular acabou. E do nada surgiu um ponto final.
Mas o final não veio. Não literalmente. Sentei na cama e fiquei contemplando aquele imenso ponto final. Era estranho. Estava acostumado a entender os pontos de interrogação. E de tanto entende-los, eu os esticava, e então viravam pontos de exclamação.

Questionei a mim mesmo. Questionei as pessoas que não estavam presentes. Porque nada termina depois de um ponto final? É como aquela idéia de que no final todos viveram para sempre?

O que vem depois do "... para sempre"? Um ponto final. Mas então não termina. É um novo começo. Uma nova perspectiva de entender o mundo. E eu que tinha tantos pontos finais mas os escondia. Agora me vejo obrigado a enfrentá-los. Como agir nessa nova perspectiva de que com o ponto final nada termina, é só um novo começo?

Retirei meus pontos finais escondidos embaixo do travesseiro. Os enfilerei na cama. Sorri. E então pude dormir em paz.

Existe muito mais possibilidades nessas minhas reticências.

E no final eu sempre vivi feliz para sempre...

Nota do Editor: David Tiago Cardoso (mundodedavid.blogspot.com) é psicólogo.