Foi ela mesma quem contou, quando chegou feliz da viagem, e tudo mudou. Nem teve tempo de partilhar com o marido a emoção de ver de perto aqueles lugares tão sonhados. Ele não estava em casa. Olhou para os lados, nenhum vestígio do amado! O armário sem roupas, sua mesa de cabeceira pelada. Aquele vazio trespassou-lhe a alma. O coração sangrava, perdeu o chão. Sobre um móvel da sala a foto do casal em risos zombava. A cabeça girava, a vida rodava enquanto ela chorava. Quantas lágrimas derramou! De tristeza, de saudade, de raiva. Até que o tempo passou e ela se aprumou.

A vida é mesmo sempre mutante. Vai ela seguindo calmamente e de repente, pluf! Vira do avesso, fica de ponta cabeça, de pernas pro ar. Sem aviso prévio, nos pega desprevenidos. Pode ser doença grave, um acidente, algo inesperado. Tropeço em negócio mal calculado. Namoro ou casamento acabados. Às vezes ela nos dá breves sinais que não compreendemos. Ou não queremos enxergar. Mas nem tudo depende só da gente. Podemos ser demitidos sumariamente.