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Crônicas
17/11/2009 - 13h00
A república da quantidade
Luciano Pires
 

Um seguidor do confucionismo, Ji Mèngke, que passou para a história como Mêncio, escreveu uns 300 anos antes de Cristo o seguinte:

“Alguns trabalham com a cabeça, outros com os músculos. Os que trabalham com a cabeça dirigem os que trabalham com os músculos.”

Muito bom, né? O pensamento de Mêncio tem me ocupado a cada vez que observo as coisas inexplicáveis que acontecem neste nosso brasilzão.

O apagão do Lula, por exemplo. Ops! Desculpe! A novilíngua petista já definiu que não foi apagão. Foi blecaute. Quem tem apagão é o FHC, né?

Pois bem, nos últimos anos investimos quantidades crescentes de dinheiro em nosso sistema de geração de energia. E então - a se acreditar nas explicações dos técnicos escolhidos para falar - um raio cai no lugar certo e... pimba! Tudo no escuro. Mas “nunca antes neste país tivemos tanta geração, tanta conectividade, tanto controle, tanta eficiência.” Qual é o indicador de sucesso? Quantidade.

Outro exemplo? O exame do Enade, obrigando milhares de estudantes a deslocarem-se 40, 60, 100 quilômetros para fazer uma prova. Quem cuidou da logística do exame deve ser uma daquelas figuras onipresentes no Brasil: o burro com iniciativa. E as perguntas com propaganda do governo? Uma vergonha. Qual é o indicador de sucesso? “Nunca antes neste país tivemos tantos estudantes participando de uma avaliação”. Quantidade.

Vamos ao SUS, o Sistema Único de Saúde? É tão bom que vão sugerir ao Obama que copie. E as filas, o desaparelhamento, a falta de médicos? Ah... O indicador de sucesso é: “Nunca antes neste país tanta gente teve atendimento médico”. Quantidade.

Quer mais? Que tal nosso sistema educacional? Investimos, comunicamos, elaboramos, implementamos. E entra ano, sai ano, terminamos os testes de nível de conhecimento empatados com a Belonésia do Sul em penúltimo lugar. Indicador de sucesso? “Nunca antes neste país tivemos tanta criança na escola, tanta sala de aula, tão pouca evasão escolar”. De novo, a quantidade.

Vamos às operadoras de celular? A prestação de serviços é uma merda, mas “nunca antes tivemos tantos técnicos, tantas torres, tantos atendentes telefônicos, tantos clientes”. Indicador de sucesso: quantidade.

E aquele programa horrível de televisão, com sangue, bundas e baixarias? “Nunca tivemos uma audiência tão alta”. Quantidade...

A resposta é sempre “nunca tantos, nunca quantos”: quantidade. Claro! Quantidade dá pra reproduzir facilmente com números que (quase) todo mundo entende. Mas e a qualidade? Dá pra reduzir a números? Não dá. Para avaliar “qualidade” tem que ter cabeça.

O Brasil é a República da Quantidade. Quer saber? Conseguimos. “Abrasileiramos” Mêncio:

“No Brasil, alguns trabalham com a cabeça, outros com os músculos. Os que trabalham com os músculos dirigem os que trabalham com a cabeça.”


Nota do Editor: Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista. Faça parte do Movimento pela Despocotização do Brasil, acesse www.lucianopires.com.br.

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