28/08/2025  01h48
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
20/11/2009 - 15h08
O microvestido e a escravidão sexual conscienciosa
Débora Carvalho
 

No dia 22 de outubro a estudante Geisy Arruda, de 20 anos, foi hostilizada pelos alunos da sua universidade, a Uniban. Dos detalhes, todos já estamos a par, pois o ocorrido foi e tem sido amplamente discutido pela mídia – tanto em jornais quanto em programas abertos a debates e entrevistas.

Quem está certo e quem está errado? – Cada um tem uma opinião. Mas, se a gente for pensar na raiz do problema, o cerne da questão está no regulamento da instituição. O que aconteceu foi o resultado da ausência de regras da Uniban.

Digo isso com experiência de causa – só que ao contrário. Estudei em uma instituição que definia muito bem os limites dos alunos – desde o tipo de roupas e acessórios proibidos, ao linguajar. Do Fundamental II à faculdade de comunicação, estudei numa instituição confessional – a Rede de Educação Adventista. Não nos era permitido pintar as unhas com esmaltes de cores fortes, nem o uso de maquiagem forte, jóias e bijuterias. O uso do uniforme era rigorosamente fiscalizado. Até mesmo o tamanho da saia das garotas. No máximo quatro dedos acima dos joelhos. As monitoras ficavam de olho e mandavam as mais “safadinhas” desenrolarem a saia sempre que viam. Às vezes não adiantava, porque elas desenrolavam na frente dela e lá na frente enrolavam de novo, especialmente na saída do colégio. Mas aí já estavam fora dos portões...

Na faculdade, o Unasp – Centro Universitário Adventista de São Paulo, as regras também eram bem definidas. Nada de tecidos transparentes, nem blusas ou vestido de alcinha. Saia no máximo quatro dedos acima do joelho. Mulheres não podiam usar shorts, mas podiam usar bermuda no joelho. Meninos também podiam assistir as aulas com bermudas no joelho. Nada de camiseta regata nem de desfilar sem camisa. No caso da faculdade, não era proibido o uso de maquiagem ou jóias e bijuterias. O linguajar também era fiscalizado, sob pena de advertência e tal. Nada de palavras de baixo calão.

Fora isso, também não era permitido o uso de álcool, cigarro... nem de som (música) não autorizada.

Se a Geisy estudasse em uma instituição com regras definidas dessa maneira, jamais teria sofrido a humilhação que sofreu. Na condição de mulher, acho que posso dizer que ela é meio sem noção. Não sou nenhuma feia para que alguém diga que tenho é inveja do “corpão” dela. Pelo contrário. Quem me conhece sabe... (rs). Mas a faculdade em nada ajudou a garota nessa sua falta de “bom senso” com o vestuário.

Me lembrei agora de uma das aulas de comunicação, estudando os textos de Guy Debord sobre ideologia. Me lembro de alguns parágrafos esclarecedores sobre a moda, o feminismo e a onda de transformar a mulher em objeto sexual, objeto de desejo – sem o menor pudor. E isso estava sendo feito de tal forma que a mulherada imaginava que esta era se libertando da opressão e se fazendo livre para vestir o que quisesse, expor o seu corpo da maneira que bem entendesse, sem imaginar que na verdade estava era apenas se escravizando de outra maneira e consciensiosamente. E hoje, vemos garotas como a Geisy Arruda – escravas da “gostosura”, dessa coisa de “chamar a atenção dos homens”, de “mexer com o imaginário feminino”. E pior, achando que o vulgar é normal, rotineiro e pronto.

Na verdade, a ação coletiva foi realmente assustadora. Nem que a garota estivesse totalmente pelada isso poderia ter acontecido. Mas, de fato, se a Uniban não tinha regras explícitas sobre o tipo de vestuário adequado, não poderia, em momento algum, acusar a garota de ferir os bons costumes e a decência.

E eu fico pensando: por mais chatas que sejam as regras e normas, é para isso que elas servem. Para evitar o caos. Para permitir a convivência de forma pacífica.

Também fui aluna da Universidade Anhembi-Morumbi. Algumas garotas também vão às aulas com decotes no umbigo, com microshorts, microsaias jeans... e também já ouvi comentários sobre esse não ser o tipo de roupa adequado para uma sala de aula, que é falta de respeito e tal. Não posso deixar de concordar. Não vivemos mais no tempo da opressão exagerada, quando mulheres não podiam nem usar calça comprida. Mas o bom senso ainda é bem-vindo. O respeito também.

Aí eu lembro de algumas dicas que sempre vejo em programas sobre moda... como o Esquadrão da Moda no SBT. Outro dia a cantora Claudia indicou a cantora Stéfanie para o programa. Na hora de defender seu guarda-roupa cafona, ela vestiu uma calça jeans super apertada, partindo a região íntima ao meio, com um top e um colete curto. A Fiorentini perguntou que mensagem ela queria passar com aquela roupa, na balada:

Fiquem longe, me respeitem? Ou, Pode vir que a festa é aqui?

Não sei!!!” – Respondeu Stéphanie, com tom assustado e sincero.

Pobre garota. Ela realmente não sabia. Acho que esse também é o caso da Arruda.

Acho que tá na hora da televisão parar de mostrar mulher pelada e ensinar a gente a se vestir e passar uma imagem adequada. Como a Fiorentini sempre diz, a roupa passa uma imagem. Que imagem a gente quer passar? O que temos vestido? Assim como nosso linguajar é importante, o modo como tratamos as pessoas, a maquiagem, a profissão... a roupa também.

Tomara que a Geisy e todas nós possamos aprender algo bom com essa história toda. Intolerância, não. Bom senso, sim.

E mais. É importante ter cuidado com o que os modistas apregoam. Como no início do texto... só porque a Chanel acha chique o microvestido, não significa que ele não significa mais a intenção de se expor. Se a intenção não é se expor, nada de microvestido. Claro que ninguém precisa ficar cafona como algumas religiões exigem... proibindo até hoje o uso de calça e outras coisas que nada têm a ver com a “decência”. Chega de preconceito. Vamos estudar o tema, refletir e dar espaço à harmonia, beleza e respeito. – Claro, isso vale para quem quer respeito.


Nota do Editor: Débora Carvalho de Oliveira (www.beeview.com.br) é jornalista, empreendedora em comunicação e universitária.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.