A inspeção veicular surge como a nova preocupação para os donos de veículos. Em São Paulo, que já aplica os testes há dois anos, a expectativa é que as reprovas se multipliquem por cinco diante de um novo decreto, que segue as normas recentes do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Mas a preocupação deve ser geral pois, nos próximos anos, as restrições devem valer para todo o território nacional. A verificação das condições de uso e conservação da frota é algo interessante e desejável para toda a população que com ela convive. É a garantia de que não estaremos respirando ar saturado acima dos limites toleráveis e de que correremos riscos menores em relação aos acidentes provocados por falhas mecânicas ou de conservação. Sua aplicação deveria ser uma conseqüência natural da evolução tecnológica da própria sociedade que, dispondo de recursos, fiscaliza para evitar problemas maiores. Jamais poderá trazer o xiitismo de militantes ambientais, nem a feição de punição a donos de veículos e muito menos o condão de proporcionar rendimento fácil, volumoso (e até imoral) a pessoas ou grupos, principalmente os ligados ao poder. Diferente do que tem sido feito nas localidades onde é implantado, o teste não deveria ter começado pelos veículos seminovos que, recém-saídos das fábricas, dificilmente apresentarão padrões inadequados. Uma política séria para o setor deveria começar pelos mais antigos, exigindo que neles sejam mantidos os índices de segurança e emissão de gases parecidos com os estabelecidos na época de sua fabricação. Só isso já retiraria das ruas um elevadíssimo número de sucatas ambulantes que hoje poluem o ar, prejudicam o trânsito ao quebrarem em via pública e ainda vitimam seus ocupantes e terceiros aos provocarem acidentes. É evidente que, ao recolher esses veículos inviáveis, há que se encontrar uma alternativa para os seus usuários. Muitos são usados para o trabalho e garantem o sustento da família de seus donos. Para estes, o governo terá de encontrar um meio de acesso a um veículo mais contemporâneo e capaz de atender às normas de segurança e ambiente. Talvez seja o caso de criar esquemas de subsídio, fabricação de veículos despojados como os “pés-de-boi” de antigamente. Nada difícil a um governo que já criou e defende o bolsa-família. Poderia ser o bolsa-veículo. Só depois de encontrar uma solução para a frota antiga e sucateada é que as autoridades terão moral suficiente para fiscalizar com mão-de-ferro os veículos mais modernos que, pelo menos teoricamente, atendem às normas hoje vigentes. Além de inspeções e punições, há também a necessidade de campanhas de conscientização para chamar a atenção de proprietários e motoristas para a manutenção. Só ao evitar os motores queimando ou jogando óleo na pista, a queima apenas parcial do combustível, os pneus carecas, a falta de amortecedores e outros problemas corriqueiros à nossa frota, teremos dado um enorme salto de qualidade e tornado nossas cidades muito mais salubres e melhores para nelas se viver. E, mais uma coisinha: o dono de veículos já paga muito imposto. A inspeção poderia ser custeada pelo governo, com verbas vindas do IPVA, pedágios e de outras arrecadações provenientes do setor... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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